quarta-feira, 12 de abril de 2017

Suspiria (1977)


Suspiria é considerado de forma quase unânime, não só o melhor filme de terror italiano como talvez o melhor filme de terror europeu já feito, dono e senhor de um visual de uma criatividade sem igual, com uma palete de cores que parece impossível de alcançar, forte, crua, quase invasiva. No fundo é isso que faz o cinema de culto, a individualização das suas melhores características, preferindo-se essa especialização em detrimento de um produto mais equilibrado nas sua várias componentes. Há que o admitir, Suspiria é um regalo para os olhos e para os sentido, mas se o esquartejarmos como ele faz às suas não tão cândidas bailarinas vemos um argumento desequilibrado e um desenvolvimento de personagem quase nulo, como se nada fizesse sentido, como se tudo fosse um pesadelo no qual estamos anestesiadamente inseridos, numa realização descritiva onírica, por entre corredores e portas filmadas de ângulos imprevisíveis, figuras bizarras e temporais metereológicos. É inegavelmente fabulosa a forma como Dario Argento manipula a imagética desta misteriosa e rígida escola interna de ballet, onde a única pessoa aparentemente sã é a recém chegada estudante americana interpretada por Jessica Harper, e é isso que interessa. Não é necessário que faça "sentido", ainda que afinal de contas a construção dramática lenta seja prenúncio de que algo de verdadeiramente horrível está prestes a ser revelado. Será nessa espiral final, talvez apressada, que Suspiria atinge todo o seu potencial, no descobrir de algo mais para além da última porta. Elogio para a arrepiante banda sonora de luxo da banda italiana de krautrock/rock progressivo Goblin, por vezes demasiado invasiva (Suspiria pedia mais silêncios para que se ouvissem os seus suspiros), mas que ficará na desconfortável memória do espectador à saída da sala enquanto recorda o sorriso de Jessica Harper.

Porque é bom: Palete cromática incrível; realização criativa com planos de soberba composição; sentido onírico atordoante; a maior influencia do terror slow burn misterioso e sufocante; excelente banda sonora

Porque é mau: Argumento desequilibrado; personagens pouco desenvolvidas; banda sonora é por vezes demasiado invasiva; recta final algo apressada

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