Mais um ano passou e está entre nós a 91ª Cerimónia dos Oscars. 2018 foi um ano que deixou algo a desejar no que diz respeito à sétima arte. A dificuldade de surpreender pela originalidade e o refrescamento de ideias já recorrentes na época dos prémios do cinema fazem com que a presente cerimónia seja mais do mesmo. Fica ainda marcada pela ausência de alguns dos melhores e mais originais filmes do ano, como First Reformed ou Hereditary. Não existiu este ano nenhum filme digno de 5 estrelas, mas First Reformed esteve muito perto. A pressão mediática para que certos filmes fossem nomeados, tais como Black Panther ou Bohemian Rhapsody também mancha a celebração da qualidade cinematográfica este ano. As temáticas raciais e políticas continuam a dominar os nomeados, às quais se acrescenta uma outra, a música, ou dever-se-á dizer a celebração de Lady Gaga enquanto activista pop. Por outro lado é a primeira vez em alguns anos em que não existe um grande favorito a vencer, pelo que deverão existir várias surpresas. É também a primeira cerimónia em décadas a não ter apresentador. A Academia precisa de se deitar no divã da psicanálise e rever bem o seu papel. Estamos a falar da celebração do cinema ou de activismo político-social?
As notas do The Fading Cam aos 8 nomeados para melhor filme
Black Panther

BlacKkKlansman

Bohemian Rhapsody

The Favourite

Green Book

Roma

A Star Is Born

Vice

As previsões, preferências e potenciais surpresas:
Óscar de melhor filme:
Quem vai ganhar - A Star is Born
Quem deveria ganhar - BlacKkKlansman
Quem pode fazer uma surpresa - Roma ou Bohemian Rhapsody

Óscar de melhor realizador:
Quem vai ganhar - Alfonso Cuarón (Roma)
Quem deveria ganhar - Alfonso Cuarón (Roma)
Quem pode fazer uma surpresa - Spike Lee (Blackkklansman)
Tudo indica que Alfonso Cuarón volte a vencer o óscar de melhor realizador. Em Roma, Cuarón transcende-se e entrega um filme fascinante a nível visual, lembrando a espaços a realização de Hou Hsiao-Hsien. A composição de plano e o movimento de câmara elevam Roma perante toda a competição, com uma fotografia de uma beleza avassaladora a preto e branco, ilustrando o quentes México dos anos 70 sem precisar de recorrer à palete seca que normalmente associamos a tal cenário. É uma pena para a fusão de géneros de Spike Lee ter tamanha competição, mas quem sabe não haverá uma surpresa.
Óscar de melhor actriz principal:
Quem vai ganhar - Glenn Close (The Wife)
Quem deveria ganhar - Olivia Colman (The Favourite)
Quem pode fazer uma surpresa - Lady Gaga (A Star is Born)

Óscar de melhor actor principal:
Quem vai ganhar - Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Quem deveria ganhar - Willem Dafoe (At Eternity's Gate)
Quem pode fazer uma surpresa - Bradley Cooper (A Star is Born)

Óscar de melhor actriz secundária:
Quem vai ganhar - Emma Stone (The Favourite)
Quem deveria ganhar - Emma Stone (The Favourite)
Quem pode fazer uma surpresa - Marina de Tavira (Roma)

Óscar de melhor actor secundário:
Quem vai ganhar - Sam Elliot (A Star is Born)
Quem deveria ganhar - Adam Driver (BlacKkKlansman)
Quem pode fazer uma surpresa - Mahershala Ali (Green Book)
Mais uma categoria equilibrada onde por algum motivo Sam Elliot aparenta ser o favorito. Se este é o melhor papel da sua carreira, então algo está mal. Adam Driver tem um brilhante papel em BlackKkKlansman, ainda melhor que o do protagonista John David Washington. Poder-se-á dizer igualmente que este não é o melhor papel da carreira de Adam Driver, mas é bom o suficiente para o (ainda) jovem actor de culto levar já a sua primeira estatueta da carreira. Mahershala Ali também poderá vencer o seu segundo Óscar, mas ficaria mal entregue.
Óscar de melhor argumento original:
Quem vai ganhar - Roma
Quem deveria ganhar - First Reformed
Quem pode fazer uma surpresa - The Favourite

Óscar de melhor argumento adaptado:
Quem vai ganhar - A Star is Born
Quem deveria ganhar - BlacKkKlansman
Quem pode fazer uma surpresa - BlacKkKlansman

Os três grandes filmes que a Academia decidiu ignorar:
First Reformed 


First Man 

Estranhíssimo que depois de todo o hype recebido por Damien Chazelle, vencedor do Óscar para melhor realizador com La La Land, o seu novo filme tenha ficado de fora das principais categorias e tenha sido quase um flop de bilheteira. A história de Neil Armstrong, num underacting espantoso de Ryan Gosling, e a chegada do Homem à Lua é um portento técnico cinematográfico. Um documento biográfico/histórico de rara frieza e objectividade, uma lição sobre como fazer o biopic. A lição pelos vistos não agradou à Academia.
Hereditary 

É difícil que um filme de género terror seja contemplado nos Óscares, mas no ano passado não foi precisamente isso que aconteceu com Get Out? Hereditary é um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, dotado de uma realização clínica e inspirada de Ari Aster e uma interpretação soberba de Toni Collette, que não só deveria estar nomeada para melhor actriz, como poderia mesmo vencer a estatueta.