quinta-feira, 27 de abril de 2017

The Handmaiden (2016)


Com filmes como The Handmaiden, realizado por aquele que é pelo menos o mais conhecido nome da New Wave Sul Coreana, Park Chan-Wook, que dirigiu o enorme Oldboy relembrando o mundo Ocidental do cinema produzido nesse país asiático, não há outra saída senão colocar a fasquia elevadíssima. Apesar disso, enquanto The Handmaiden tem sempre contornos de obra prima em toda a sua componente estética e argumentativa, é precisamente esta ultima que se torna o seu calcanhar de Aquiles. Não há grandes dúvidas que Handmaiden é um festim de bom gosto estético, de imagens sempre cuidadosamente compostas lembrando a espaços A Assassina de Hou Hsao-Hsien, mas parece que por vezes tem vergonha da sua própria identidade com um argumento ocidentalizado algures entre a personalidade das personagens de Tarantino e os plot twists de Nolan. Talvez seja por isso que no Ocidente nos damos tão bem com esta nova linguagem do cinema asiático. Aquilo que no seu primeiro terço começa por ser um drama interior de personagem denso, que avança para o seu meio, vai com o tempo moldando-se a uma história de trapalhões e espertalhões, com muita provocação sexual algo gratuita à mistura, naquilo que pode na realidade apelidar-se de thriller erótico (mas só se quisermos intelectualizar a coisa, porque The Handmaiden atinge níveis de softcore raramente vistos fora do cinema para adultos). Às tantas parece que há aqui ingredientes a mais, o estado de espírito do filme é flutuante e acaba por ser uma agradável mistura de géneros e linguagens excessivamente estilizada. É agradável, mas a coesão é inexistente. No último terço do filme damos por nós a apoiar quem nunca esperávamos, subvertendo tudo aquilo que havia sido projectado até então, o que provoca uma ponderação sobre tudo aquilo que nos foi mostrado até aí. Era mesmo necessário? Ou seria apenas vaidade? E depois existem as inevitáveis contradições de um filme que se assume um elogio à força das mulheres, ou a um girl power mais cool (e mais uma vez mais ocidentalizado), mas que depois acaba por objectificar essas mesmas heroínas. The Handmaiden é cinema educado e elevado, embora paire sempre sobre ele uma aura de artificialidade que só será disfarçável pelo entusiasmo do seu argumento apontado directamente aos adeptos do melhor entretenimento feito em Hollywood, e é o melhor filme de Park Chan-Wook desde Oldboy.

Porque é bom: Estética soberba; boas interpretações, de grande presença; argumento entusiasmante de grande entretenimento que mistura vários géneros, caracterização de época brilhante.

Porque é mau: O argumento é pouco coeso, como que tripartido em 3 filmes com 3 estados de espírito distintos de difícil justificação além das entusiasmantes surpresas para o espectador; um soberbo drama interior molda-se a trapalhice de personagem, também boa, mas que torna difícil distinguir a genuinidade da vaidade.

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