quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Jackie (2016)


Jackie é um filme que só será relevante para quem realmente se interessar pelo seu assunto, porque a par de retratar, com a fidelidade discutível de uma história verídica (que aqui não é história mas sim, lá está, retrato) os momentos antes e depois do assassinato de Kennedy, pouco mais há a oferecer além desse relato feito por uma personagem que dificilmente justifica uma homenagem como esta. Jackie rodeia o assunto/momento que lhe é basilar, o assassinato de Kennedy que cai morto ao colo da primeira dama aqui personagem central após o disparo que lhe destruiu o crânio, falando sobre ele, reagindo a ele, mas mostrando tudo isto de forma fragmentada, um pouco como Sully de Clint Eastwood já havia feito, melhor, também em 2016. Dir-se-á que Natalie Portman está soberba, que justificaria até o Óscar de melhor actriz e que esta até pode ser a melhor interpretação da sua carreira. Dificilmente (até porque existe Black Swan)... Portman mimetiza, muito bem, Jackie, e é difícil dizer nestes casos que a interpretação é soberba quando está tão circunstrita à personagem, que é real, não permitindo criação ou apontamento pessoal. O mesmo se dirá da Iron Lady de Meryl Streep ou do Lincoln de Daniel Day-Lewis, constantemente invocado em Jackie, atribuindo ao filme uma ilusão de grandeza, um puxar de louros que não lhe pertencem em busca de uma relevância histórica que neste filme nunca passa do superficial e descritivo. Portman faz apenas e só, com excelência, aquilo que lhe é pedido, mas é difícil ver interesse no filme de Pablo Larraín além desta "imitação" e de alguns bons diálogos, particularmente com John Hurt e Peter Sarsgaard, aqui irmão de Kennedy, braço direito de Jackie nos arranjos funerários, actor que nos tem vindo a oferecer ao longo dos anos sempre excelentes interpretações secundárias e que teima em dar o salto para desafios maiores. É verdade que se exploram de forma sóbria temáticas como a vaidade, a genuinidade do luto, o fazer aquilo que é correcto em nome da história, mas será isso suficiente?

Porque é bom: Boa interpretação de Natalie Portman, Peter Sarsgaard e John Hurt; a exploração estóica de temáticas como a vaidade, o luto e a pressão mediática nos momentos de maior dificuldade pessoal; bons diálogos.

Porque é mau: Portman limita-se a imitar a primeira-dama, os seus trejeitos de fala, de expressão, enfim, não existe trabalho criativo da actriz nem espaço para se expandir para fora do boneco que lhe é imposto; mesmo enquanto espécie de biografia fragmentada, é difícil ver a relevância de Jackie para o cinema e para o espectador, limitando-se a dirigir-se a um público muito específico, e se não fosse a sua nomeação (inevitável pelo género) para actriz principal dificilmente se distinguiria pelo seu próprio valor.

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