terça-feira, 10 de janeiro de 2017

The Light Between Oceans (2016)


Quando Derek Cianfrance realizou em 2013 The Place Beyond The Pines apelidá-mo-lo por aqui de um dos mais promissores realizadores americanos. Nessa altura Cianfrance colocou a bitola perto do máximo, realizando um filme extremamente ambicioso em termos narrativos e técnicos, de toque artístico notável e com um estoicismo invejável. Essa ambição foi a sua maior perda, tendo The Place Beyond The Pines acabado por ser um passo maior que a perna tornando-se um filme penosamente longo e desequilibrado. Apesar de se sentir que The Light Between Oceans passou muito tempo na sala de montagem, parece que a obsessão de Cianfrance em ter mais olhos que barriga se mantém, começando logo na estrutura do filme, que parece partido, aqui em dois, como já acontecia no seu filme anterior, partido em três. É uma escolha como qualquer outra mas traz uma consequência inescapável, e que é o abandono do desenvolvimento das suas personagens. É uma pena porque é quando Fassbender e Alicia Vikander, dois portentos da interpretação, começam realmente a atingir o espectador com a bem-vinda complexidade das suas personagens e do seu romance que o realizador decide afastar-nos delas para introduzir Rachel Weisz e uma nova camada narrativa, fresquinha, que o filme não pedia, mas que não deixaria de ter o seu mérito...se The Light Between Oceans fosse dois filmes. O romance entre Fassbender e Vikander, de época (estamos na década de 20/30), é de rara beleza quando infelizmente o hábito é vermos no grande écrã amor de pastilha elástica descartável. A realização, mais uma vez cuidada e sensível, eleva o filme para patamares superiores. Pena que a sua poesia visual, que pensa que é epopeia trágica mas que é na realidade algo mais próximo da ingenuidade naturista de um Alberto Caeiro, belíssima, seja mais uma vez tão desequilibrada. Claro que é um bom filme, tecnicamente e a nível interpretativo é do melhor que se viu em 2016,  mas toda esta embrulhada argumentativa borra e muito o quadro geral. À terceira tentativa (já com Blue Valentine foi o mesmo), Cianfrance já não tem desculpa.

Porque é bom: Excelente realização e cinematografia; Fassbender e Vikander têm grandes interpretações; um dos melhores romances que vimos nos anos recentes desenvolvido apenas na primeira metade do filme.

Porque é mau: Muito desequilibrado em termos de estrutura narrativa; a segunda metade do filme abandona o desenvolvimento de duas boas personagens para trazer uma nova camada que nem o filme nem o espectador pedia e que pouco ou nada traz ao mérito do produto final.

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