sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Spotlight (2015)



Um dos mais nomeados para os Óscares de 2016, Spotlight traz a história por detrás dos bastidores da investigação do jornal Boston Globe sobre o escândalo de pedofilia na Igreja Católica desvendado em 2002. Existem algumas camadas por onde pegar este Spotlight, mas é a sua coesão e olhar clínico que constituem as suas maiores forças. Temos uma equipa de jornalistas que dá nome ao filme, heterogénea e determinada, e que é uma espécie de aquário da comunidade onde vivem, em Boston, debatendo ideologias pessoais e deontologia profissional do jornalismo. Através de uma série de entrevistas, telefonemas e truques de secretaria conseguem formar história e convicção sobre os reais casos de pedofilia que lançaram muitas questões e dúvidas sobre a Igreja Católica naquele ano. Pode dizer-se que Spotlight é uma espécie de Os Homens do Presidente (de 1976 acerca do caso Watergate) moderno. Um filme que traduz as melhores características do jornalismo de investigação e da influência que este pode ter sobre a sociedade (afinal esse é o grande poder dos media). No entanto Spotlight não é só uma ode ao jornalismo de investigação. É também um refrescar de memória de uma sociedade que parece adormecida sobre esta problemática que continua a existir, e esse chamar de atenção também pode ser função do cinema com todas as armas que este meio possui. Não se trata apenas de pedofilia na Igreja Católica. Trata-se de pedofilia de um modo geral, aquele que é provavelmente o mais hediondo dos crimes, que marca as suas vítimas para o resto das suas vidas e lhes cria o maior sentimento de impotência perante o que sofreram e isso exige alguma humildade ao espectador. Esta incisiva urgência de Spotlight, aliada a uma realização e interpretações inspiradas (Mark Ruffalo e Liev Schreiber destacam-se), fazem deste um dos melhores filmes do ano. É um filme sobre justiça e serviço público, e que é ele próprio serviço público. 

Porque é bom: Utiliza o cinema para refrescar a memória do espectador acerca do crime de pedofilia, exigindo-lhe humildade e fazendo verdadeiro serviço público; traduz os métodos do melhor jornalismo de investigação; a ideologia pessoal do jornalista vs deontologia profissional; as interpretações de Mark Ruffalo e Liev Schreiber.

Porque é mau: O facto de não encher o olho, não ter heróis definidos (a comunidade em si é o herói) e ter uma apresentação linear pode aborrecer alguns espectadores.

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