Um dos mais nomeados para os
Óscares de 2016, Spotlight traz a história por detrás dos bastidores da
investigação do jornal Boston Globe sobre o escândalo de pedofilia na Igreja
Católica desvendado em 2002. Existem algumas camadas por onde pegar este
Spotlight, mas é a sua coesão e olhar clínico que constituem as suas maiores
forças. Temos uma equipa de jornalistas que dá nome ao filme, heterogénea e
determinada, e que é uma espécie de aquário da comunidade onde vivem, em
Boston, debatendo ideologias pessoais e deontologia profissional do jornalismo.
Através de uma série de entrevistas, telefonemas e truques de secretaria
conseguem formar história e convicção sobre os reais casos de pedofilia que
lançaram muitas questões e dúvidas sobre a Igreja Católica naquele ano. Pode
dizer-se que Spotlight é uma espécie de Os Homens do Presidente (de 1976 acerca
do caso Watergate) moderno. Um filme que traduz as melhores características do
jornalismo de investigação e da influência que este pode ter sobre a sociedade
(afinal esse é o grande poder dos media). No entanto Spotlight não é só uma ode
ao jornalismo de investigação. É também um refrescar de memória de uma
sociedade que parece adormecida sobre esta problemática que continua a existir,
e esse chamar de atenção também pode ser função do cinema com todas as armas
que este meio possui. Não se trata apenas de pedofilia na Igreja Católica.
Trata-se de pedofilia de um modo geral, aquele que é provavelmente o mais
hediondo dos crimes, que marca as suas vítimas para o resto das suas vidas e
lhes cria o maior sentimento de impotência perante o que sofreram e isso exige alguma humildade ao espectador. Esta
incisiva urgência de Spotlight, aliada a uma realização e interpretações
inspiradas (Mark Ruffalo e Liev Schreiber destacam-se), fazem deste um dos
melhores filmes do ano. É um filme sobre justiça e serviço público, e que é ele
próprio serviço público.
Porque é bom: Utiliza o cinema para refrescar a memória do espectador acerca do crime de pedofilia, exigindo-lhe humildade e fazendo verdadeiro serviço público; traduz os métodos do melhor jornalismo de investigação; a ideologia pessoal do jornalista vs deontologia profissional; as interpretações de Mark Ruffalo e Liev Schreiber.
Porque é mau: O facto de não encher o olho, não ter heróis definidos (a comunidade em si é o herói) e ter uma apresentação linear pode aborrecer alguns espectadores.
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