quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Carol (2015)


O que é que faz do novo filme de Todd Haynes um objecto tão singular, além de tratar a homossexualidade numa Nova Iorque dos anos 50? É evidente que só o tema não basta, ainda que seja chamariz num ano de 2015/2016 onde a igualdade de género e orientação sexual são questões que têm estado na ordem do dia, principalmente em termos legais, e a sétima arte, enquanto arte do seu tempo, não foge a isso. No entanto é pena que se confunda este Carol com um manifesto pela liberdade sexual numa década de tabu, quando o filme é muito mais personagem e sentimento do que propriamente mensagem e ideal, e tanto assim é que o filme nunca dá rótulo à relação das suas duas personagens. Temos uma Cate Blanchett madura, predadora, protectora, presa nos tabus e exigências sociais da época, e uma Rooney Mara jovem, realista mas com sonhos, que quer dizer sim ao desconhecido. A química das duas, e são duas enormes interpretações, é algo que nos faz sentir o que sentem, esbatendo noções rígidas daquilo que estamos habituados a que seja o romance no grande écrã. Cada sorriso, tacto, nervosismo... São de facto actrizes fora de série. Se Blanchett é provavelmente a melhor actriz em actividade (Blue Jasmine dissipa quaisquer dúvidas), Rooney Mara é um valor que talvez venha a reclamar esse trono num futuro próximo. É quase onírica a viagem que ambas fazem no carro de Blanchett, e o espectador está lá, a reconhecer esta paixão e o seu desenvolvimento, sem qualquer estranheza, observando as suas consequências. É essa complexa simplicidade e sensibilidade que distinguem Carol e fazem dele um dos filmes mais belos do ano. Os grandes mestres e intérpretes do cinema por vezes não precisam de mais do que isto. 

Porque é bom: Duas interpretações magistrais; a beleza onírica que transporta todo o filme; a falta de complexos; complexa simplicidade e sensibilidade.

Porque é mau: A sua aparente simplicidade narrativa pode ser uma faca de dois gumes.

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