O que é que faz do novo filme de
Todd Haynes um objecto tão singular, além de tratar a homossexualidade numa
Nova Iorque dos anos 50? É evidente que só o tema não basta, ainda que seja chamariz
num ano de 2015/2016 onde a igualdade de género e orientação sexual são
questões que têm estado na ordem do dia, principalmente em termos legais, e a
sétima arte, enquanto arte do seu tempo, não foge a isso. No entanto é pena que
se confunda este Carol com um manifesto pela liberdade sexual numa década de
tabu, quando o filme é muito mais personagem e sentimento do que propriamente
mensagem e ideal, e tanto assim é que o filme nunca dá rótulo à relação das
suas duas personagens. Temos uma Cate Blanchett madura, predadora, protectora,
presa nos tabus e exigências sociais da época, e uma Rooney Mara jovem,
realista mas com sonhos, que quer dizer sim ao desconhecido. A química das
duas, e são duas enormes interpretações, é algo que nos faz sentir o que
sentem, esbatendo noções rígidas daquilo que estamos habituados a que seja o
romance no grande écrã. Cada sorriso, tacto, nervosismo... São de facto actrizes fora de série. Se Blanchett é provavelmente a melhor actriz em actividade (Blue Jasmine dissipa quaisquer dúvidas), Rooney Mara é um valor que talvez venha a reclamar esse trono num futuro próximo. É quase onírica a viagem que ambas fazem no carro de
Blanchett, e o espectador está lá, a reconhecer esta paixão e o seu
desenvolvimento, sem qualquer estranheza, observando as suas consequências. É
essa complexa simplicidade e sensibilidade que distinguem Carol e fazem dele um
dos filmes mais belos do ano. Os grandes mestres e intérpretes do cinema por
vezes não precisam de mais do que isto.
Porque é bom: Duas interpretações magistrais; a beleza onírica que transporta todo o filme; a falta de complexos; complexa simplicidade e sensibilidade.
Porque é mau: A sua aparente simplicidade narrativa pode ser uma faca de dois gumes.
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