terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Joy (2015)


Desde The Silver Linings Playbook que David O.Russel se tem estabelecido numa espécie de comédia dramática que procura tocar determinados pontos da realidade que curiosamente não estamos habituados a ver em cinema, ou pelo menos não desta forma, não em 2015 e não em Hollywood. Joy, o filme, além de contar a história da personagem interpretada por Jennifer Lawrence, é também nome coincidentemente metafórico (baseado na real Joy Mangano) para o seu próprio rumo de vida, uma vida de fechar de portas e cortar de asas a uma mente criativa cuja avó lhe havia prometido que teria futuro brilhante pela frente. Não podemos ficar indiferentes à forma como O. Russel filma este tipo de argumento de drama familiar tão real e palpável que parece irreal de tão raras vezes que o vemos neste tipo de cinema que é comercial mas tem bom gosto, ainda que o faça com uma adequada dose de comédia melancólica que nos vai dando alento perante as tantas dificuldades que moem Joy como um nó górdio impossível de desatar. Há quem diga que Joy se destaca apenas e só pela excelente prestação de Jennifer Lawrence e que a presença de actores secundários encabeçados por Bradley Cooper e Robert De Niro serve para pouco mais do que acrescentar nomes conhecidos ao filme, mas bastará uma análise mais cuidada ao argumento para perceber que Joy é apenas a coluna vertebral que sustenta uma série de relações e personagens soberbamente escritas e bem desenvolvidas, das mais predominantes às menos relevantes, dos pais de Joy ao fornecedor de materiais, da madrasta milionária à irmã invejosa. Joy é uma obra singular sobre as dificuldades que a vida nos coloca, sobre as inseguranças, ambições, e principalmente obstáculos que nos arrancam o futuro das mãos com apenas uma palavra e que no mundo real pode determinar uma inevitável ruína familiar ou financeira. Por todos esses motivos, Joy acaba por ser uma história moderna e inspiradora sem pretensiosismos bacocos e falsas modéstias, frio q.b., realizado com personalidade e muito bem escrito. Joy, ambiguamente falando, é competente a todos os níveis.


Porque é bom: Jennifer Lawrence dá mais uma lição de acting aos 25 anos; personagens muito bem escritas e construídas; a exploração realista de dramas familiares; o facto de ser inspirador surge naturalmente, o filme não é construído calculista e presunçosamente com esse fim.

Porque é mau: Apesar de ser bom e genuíno, podia ser ainda muito mais. O.Russel precisa de sair da sua zona de conforto se pretende provocar um verdadeiro murro no estômago no espectador.


Trailer:

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