quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

The Big Short (2015)


Será fácil falar de The Big Short através de uma série de lugares comuns que na verdade poucos entendem, elogiando-o pelo conteúdo didático e moral no que diz respeito a economia, e aqui usa-se um conceito de economia preferencialmente abstracto, porque na verdade o que aqui se trata é do sector imobiliário, mais precisamente hipotecas, que como o filme tão bem nos ensina são (ou eram) o sector financeiro mais estável e seguro para os bancos receberem o seu capital. No entanto, por muito que se queira falar de The Big Short como um abre olhos para o que aconteceu na crise de 2008 em Wall Street e por muito que o filme tente explicar conceitos de forma divertida e apelativa não será injusto com certeza dizer que é muito difícil, para não dizer quase impossível, acompanhar todo o raciocínio económico que está por trás desta Queda de Wall Street.Isso não impede o filme de seguir em frente e utilizar esse fundo de lições económicas e morais para espremer um argumento de peripécias assente em interpretações sólidas e valiosas, duas delas verdadeiras pérolas. Se já estamos habituados a que Christian Bale surpreenda em todos os papéis que interpreta, aqui a sua personagem de génio da economia e do investimento, excêntrico, com uma postura surpreendentemente tranquila e problemas de sociabilidade, é muito mais profunda e preponderante graças ao trabalho do actor. De outra forma a sua personagem seria apenas mais uma. Parece que quando Bale entra em cena partimos para um outro nível de capacidade interpretativa que quase destoa com o que se passa à sua volta. Quem aqui se aproxima do galês é Steve Carell, que já havia surpreendido em Foxcatcher e agora volta a demonstrar que é muito mais do que um actor para comédias de gosto duvidoso (e de pensar que em tempos se temeu que se viria a tornar num novo Adam Sandler com coisas como Evan, O Todo Poderoso). Num degrau abaixo temos Ryan Gosling, e depois muitos furos abaixo temos uma panóplia de personagens relevantes em igual medida que as que já falámos mas que pelos vistos não têm o estatuto suficiente para figurar no póster, ao contrário de Brad Pitt, que é também produtor, e que aqui não se pode dizer que interprete sequer um papel secundário. Além das boas interpretações, que podem ser contraditórias face ao conteúdo e postura “cómica” do filme, o verdadeiro ponto forte de The Big Short está na escolha da forma que o realizador Adam McKay fez para apresentar este argumento acerca de alguns economistas que previram A Queda de Wall Street e as suas causas. O filme toma um caminho de aproximação ao espectador, num “shaky camera” quase documental pautado por comédia negra de causas e consequências gravosas a nível económico mas principalmente a nível social (esse é o ponto com que The Big Short nos pretende tocar). Uma espécie de “sector imobiliário para totós” que é eficaz mas que dissecado com atenção não é a obra-prima original que pensamos ser quando começam a rolar os créditos. É um produto para consumo imediato bem disfarçado de produto para levar para casa e pensar, o que não o impede de ser tecnicamente irrepreensível, mesmo que o seu objectivo nunca esteja bem definido ao longo de todo o filme. Adam McKay pretendia entreter-nos ou abrir-nos os olhos? Ambos, e isso é perfeitamente legítimo.


Porque é bom: Grandes interpretações de Christian Bale e Steve Carell; a realização é interessante e fresca; sentido de humor bem apurado; conteúdo relevante

Porque é mau: As interpretações de Bale e Carell desequilibram o filme e o sentimento de leveza que transmite a maioria do tempo; apesar dos notórios esforços o conteúdo económico presente é demasiado complexo para o espectador médio compreender e querer compreender; o último terço parece uma reciclagem arrastada do que foi o filme até então





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