Steve
Jobs, o homem, tornou-se uma espécie de estrela pop do mundo ambicioso e
visionário da programação, start-ups e empreendedorismo em geral. Sobre o filme pouco importa se a adaptação biográfica
encaixada em 3 longos actos que antecedem o lançamento dos 3 mais importantes
projectos da vida de Steve Jobs traduz a realidade do que realmente
aconteceu na sua vida ou se são apenas um inteligente e prático encaixar de
peças com um pano de fundo de grandiosidade de vida ou de morte. E o espectador
sente esse peso da atmosfera nos diálogos a que assiste, e que a espaços nada
têm que ver com a situação presente, mas o recordar e desenvolver de personagem
através de vivências passadas. Apesar de apresentar alguns traços biográficos, este é um
filme que mesmo que se nada tivesse que ver com a
figura do empreendedor seria sempre um portento humano moderno, produto do seu tempo, e produzido pelo melhor que existe em Hollywood. Steve Jobs vive do diálogo soberbamente escrito por Aaron
Sorkin, como já havia feito em The Social Network de David Fincher. Em ambos os
filmes é notório o conservadorismo de uma estrutura narrativa americana
clássica de encadeamento de diálogo que desenvolve as personagens ao longo de
duas horas que passam a correr. Não há necessidade de grandes truques (aqui
ainda são menos que n’A Rede Social) e acrobacias para captar o interesse do
espectador que se sente satisfeito a ver aquilo que na realidade é apenas uma
sucessão de diálogos que pouco se afastam de cenários interiores fechados,
passeios por corredores de bastidores (naturais e necessários, nunca se
confundam este corredores com o pretensiosismo faminto de óscar do miserável
Iñarritu e do seu ainda mais miserável homem pássaro) e salas de reuniões. Mas o
que seria desses diálogos se não existisse um grupo de talentosos actores
liderados por Michael Fassbender, que curiosamente em nada se parece com a
personagem que interpreta (e o que raio interessa isso?), Kate Winslet e Jeff
Daniels? Fassbender está aí e é o melhor que a indústria do cinema tem para
oferecer neste momento. E depois há Danny Boyle, que se está a esforçar para
ser a par de Stanley Kubrick o realizador que mais géneros de cinema percorreu. Mas
aqui os maiores louros não vão para o realizador. É o argumentista Aaron Sorkin
que de facto sustenta um filme aparentemente tão minimalista, mas
aprofundadamente tão complexo, por entre metáforas simbólicas de paternalismo e
outras que tais que pouco ou nada têm de disparatado ou irreal.
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