sábado, 2 de janeiro de 2016

Star Wars: Episode VII - The Force Awakens (2015)

Se já o era antes, desde que a Disney comprou os seus direitos, Star Wars tornou-se em indústria e marketing avassalador como nunca antes havia sido. Todavia, ao contrário de outros produtos social e publicitariamente sufocantes como 50 Shades of Grey ou qualquer filme com heróis da Marvel, o universo imaginário de Star Wars dá-lhe outra saúde, outra paciência, e, mesmo no espectador mais casual, uma vontade quase irresistível de ser visto. Mas não sejamos tão inocentes assim, pois é evidente que todo o entusiasmo gerado com este Episódio VII provém do recuperar do sentimento da trilogia original, a "verdadeira", que foi seguida de uma mancha gerada a computador intitulada de trilogia das prequelas (águas passadas) que não deixou grandes recordações. Este seria o regresso de Han Solo, dos filmes antigos, dos rebeldes, e é isso que todos queriam ver. Qual é o mal disso?
A tarefa de trazer de volta toda a glória de Star Wars não era fácil, mas o realizador JJ Abrams foi o homem certo para o trabalho. The Force Awakens tem qualidades e defeitos, como seria de esperar. É impossível reformular a saga de forma original e dar uma entidade isoladamente própria a um novo filme Star Wars. Qualquer que fosse a direção escolhida para o filme, estaria sempre por natureza "obrigado" a devolver aos fãs a sensação de estar a ver um filme digno da trilogia original. Posto isto, e como a idade não perdoa, há que reciclar a saga para uma nova trilogia, com novos heróis, novos vilões, uma nova trama e, sobretudo, muita informação que por vezes afecta o ritmo do filme (em boa verdade isso aconteceu em todos os filmes da série, incluindo os da trilogia original, pelo que se dá o desconto). Infelizmente o filme recicla em excesso cenas icónicas de A New Hope e The Empire Strikes Back, mas a verdade é que isso dá prazer aos espectadores. É isso que os diverte e é esse o propósito de Star Wars. Percebe-se facilmente que este é um filme transitório pelos motivos anteriores e é quase certo que podemos esperar muito mais originalidade para os próximos dois filmes. Acima de tudo, era preciso devolver à saga toda a sua glória, começando pela precedência dos efeitos especiais práticos sobre os efeitos especiais gerados por computador, como na trilogia original. É um prazer finalmente voltar a ver criaturas extraterrestres em modelos reais e não virtuais, modelos de naves fisicamente construídos e filmados e não preguiçosamente criados num programa. Sente-se o peso do filme, da coreografia do sabre de luz e das consequências de ser atingido por um disparo laser. Star Wars, como a maioria dos filmes de acção de Hollywood recentes, está mais realista e isso é bom. Esse realismo, aliado ao peso quase mitológico das suas icónicas personagens que todos conhecem da trilogia original, atribui ao filme outra seriedade, outra "consequência" muito mais definitiva do que os saltaricos e romances das prequelas. É entusiasmante, sem dúvida. É preciso é saber se o espectador é capaz de aceitar ou não a máquina comercial, e mesmo política, feroz, que está por trás do filme. The Force Awakens está construído de forma a agradar e vender mais do que qualquer outro filme anteriormente feito na história do cinema (bilhetes colocados à venda 2 meses antes da estreia) e decisões como o novo protagonista ser uma mulher, o seu companheiro de aventura ser negro ou um dos vilões ser homossexual não são evidentemente obra do acaso. Existe uma democratização popular de um filme tão grandioso e significativo para o cinema como este, acompanhando a evolução dos valores da sociedade ocidental, cada vez mais tolerante e igualitária. Isso irá agradar alguns e irritar outros, que dirão que o filme os toma por parvos, mas foi a opção que a produção tomou. A missão era difícil, para não dizer quase impossível, mas num cômputo geral The Force Awakens correspondeu às expectativas. É um soberbo blockbuster e entretém e entusiasma como poucos. Era esse o seu objectivo não era? Missão cumprida.

Porque é bom: Traz finalmente o sentimento de nostalgia digno da trilogia original. Faz um excelente trabalho ao introduzir novas personagens e uma nova trama. Adeus CGI, olá bonecos extraterrestes.

Porque é mau: Pode considerar-se que existe um excesso de reciclagem de icónicas cenas da trilogia original em detrimento da criação verdadeiramente original. Por vezes é demasiado óbvio que quer agradar o espectador.



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