quinta-feira, 19 de novembro de 2015

The Martian (2015)



Aparentemente The Martian tornou-se um filme de extremos entre o público: ou se adora ou se odeia. É verdade que o filme tem um revestimento formalmente expectável que o faz parecer básico e que pouco arrisca. Existe uma personagem principal interpretada por um Matt Damon bem disposto e agradável, com personalidade, que se vê abandonado por engano em Marte pela sua tripulação num futuro não muito distante.  Entretanto, na Terra, a NASA elabora um plano para o salvar. O filme limita-se a espelhar essas peripécias, mas a verdade é que essa simplicidade é a maior qualidade de The Martian. Os pontos fortes estão nos detalhes. Em primeiro lugar, a ciência espacial é exacta. Não existem as teorias de buracos negros e espaço/tempo duvidosas de Interstellar, nem o irrealismo dimensional do espaço de Gravity. Aqui este falso marciano semeia batatas no planeta vermelho com ajuda de condensação e das suas próprias fezes, as trajectórias espaciais são calculadas com precisão milimétrica bem argumentada, etc, etc. Em segundo lugar, é incisivo sem deixar de ser acolhedor para o espectador, preferindo o momento e a ciência ao passado da personagem, sua família e outras formas de exploração dramática de um problema que se quer visual e científico, e não emocional e de construção de personagem. Apesar do desenvolvimento da sua personagem, Matt Damon é um veículo de transporte do espectador na atmosfera realista da vida em Marte e não uma projecção de sentimentos. São caminhos diferentes, e não é por não tentar imitar a excelente performance de Matthew McConaughey em Interstellar que deixa de ter o seu interesse. Aliás, no que ao espaço diz respeito, Matt Damon é um gajo muito mais porreiro e divertido que McConaughey se tivermos em conta esta amostra.
Apesar de seguir uma fórmula tradicional de narrativa “catástrofe” americana (imagens de multidões a festejar na 5ª Avenida em Nova York olhando para um écrã gigante são já ponto de paragem obrigatório desde Armageddon e outros que tais), ainda que apenas em jeito de referência ou mesmo algum “gozo”, The Martian é um filme limpo, moderno, agradável, genuinamente interessante e sem truques, como se fosse saído da mente de um programador de 21 anos. Mas não, saiu da mente de uma velha raposa do cinema com 77 anos chamado Ridley Scott tantas vezes mal apelidado de realizador conservador...


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