Os principais elogios que têm sido tecidos em relação a
Crimson Peak partem da suposta homenagem que Guillermo Del Toro faz aos filmes “clássicos
de horror do género”. Guillermo Del Toro é um grande realizador, é certo, com
duas ou três obras de excepção (O Labirinto do Fauno e El Espinazo Del Diablo
são filmes fantásticos em ambos os sentidos da palavra), mas para falar em “homenagem
aos clássicos de horror do género” seria necessário perceber afinal de contas
que género clássico é esse, e que me lembre não existiu nenhuma época
particular no cinema em que o terror gótico fosse uma corrente comum ou que
tenha tido particular apogeu. O cinema de terror gótico sempre existiu, desde
Vampyr de 1932, ao Drácula de Bela Lugosi, passando por amostras mais recentes
como A Mansão de 1999, The Others de 2001, para não falar de tantos e tantos
outros (só acerca de Tim Burton poder-se-ia dizer que o homem a bem ou a mal é
a homenagem ao gótico em pessoa), e Guillermo Del Toro com este Crimson Peak,
isso sim, escreve-lhe uma carta de amor, como já havia esboçado antes noutros
filmes.
Crimson Peak é série B barata em aspecto, mas no seu âmago é
aventura de horror e mistério bem realizada, imaginada e sobretudo
caracterizada. Del Toro opta por uma aproximação “à antiga”, apresentando
criaturas diabólicas que nascem da maquilhagem e não dos efeitos especiais
gerados por computador. Essa caracterização é tão impressionante que à primeira
vista julgaríamos impossível tais criaturas serem de facto pessoas maquilhadas,
e isso merece um levantar de chapéu em 2015.
Visualmente Crimson Peak é brilhante, e isso também é cinema. O enredo,
repleto de metáforas, é rico o suficiente para os mais interessados explorarem
e simples quanto baste para que não se pense muito sobre ele. Relembre-se que
este não é propriamente um filme de terror, mas a verdade é que por vezes a
romantização desta Colina Vermelha parece forçada e mais sofisticada do que
aquilo que realmente é. Acima de tudo Crimson Peak é um filme competente, de um
género de cinema que está bom, recomenda-se, tem e vai continuar a ter o seu
espaço e o seu público. Del Toro apenas o expõe a um público mais vasto que
talvez se tenha esquecido que este cinema existe, mas que ele cá está, está.
Não se queira obter de Crimson Peak mais do que aquilo que ele pode dar e mais
do que aquilo que efectivamente significa. Não é tão mau como muitos pintam,
nem tão interessante como tantos outros querem que seja...
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