Não são abundantes os thrillers de acção que se pautam pela
calma, sobriedade e incisão das cenas que pretendem mostrar. O delicioso
Blackhat é um dos exemplos mais recentes a conseguir fazê-lo, e agora aparece
este Sicario, tão aperfeiçoado como um relógio suíço. É um daqueles raros
filmes que conseguem extrair tensão de situações tradicionalmente apresentadas em
cinema como “normais” para um filme de acção, mas aqui o realismo e o respeito
pela personagem e o movimento é tanto que quase parece que estamos a ser alvo
de uma purificação espiritual perante aquilo que habitualmente nos servem nos
filmes do género (com pipocas ao lado). Emily Blunt é a experiente agente de
intervenção do FBI que dá o salto para novata agente de investigação numa operação para apanhar um
barão de droga mexicano, investigação essa liderada por um cínico Josh Brolin,
coadjuvado por um misterioso e amargo Benício Del Toro naquele que será uma das
mais icónicas interpretações da sua carreira. O que não sabemos é que a
personagem de Blunt é a face do espectador, ao ser largada num mundo que não
conhece onde a legalidade e a moralidade se esbatem nas paisagens áridas do
México e do Arizona. O sentimento de causa e efeito e a assertividade na
sequência de cenas está ao nível de Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow, ou do
já referido Blackhat, de Michael Mann. Bastam algumas cenas para Denis
Villeneuve, o realizador, conseguir extrair actuações de mão cheia que estão
apenas sujeitas ao julgamento do espectador enquanto observador da narrativa e
de tudo o que ela implica, bem como do filme enquanto estruturação de imagens. Assim está também a
personagem de Blunt, que nem por estar num filme chegará a perceber afinal
“como é que as coisas funcionam na realidade”. Sabe tão bem ver Sicario, tomara
todos os thrillers serem assim tão honestos a todos os níveis...
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