domingo, 8 de novembro de 2015

Sicario (2015)



Não são abundantes os thrillers de acção que se pautam pela calma, sobriedade e incisão das cenas que pretendem mostrar. O delicioso Blackhat é um dos exemplos mais recentes a conseguir fazê-lo, e agora aparece este Sicario, tão aperfeiçoado como um relógio suíço. É um daqueles raros filmes que conseguem extrair tensão de situações tradicionalmente apresentadas em cinema como “normais” para um filme de acção, mas aqui o realismo e o respeito pela personagem e o movimento é tanto que quase parece que estamos a ser alvo de uma purificação espiritual perante aquilo que habitualmente nos servem nos filmes do género (com pipocas ao lado). Emily Blunt é a experiente agente de intervenção do FBI que dá o salto para novata agente de investigação numa operação para apanhar um barão de droga mexicano, investigação essa liderada por um cínico Josh Brolin, coadjuvado por um misterioso e amargo Benício Del Toro naquele que será uma das mais icónicas interpretações da sua carreira. O que não sabemos é que a personagem de Blunt é a face do espectador, ao ser largada num mundo que não conhece onde a legalidade e a moralidade se esbatem nas paisagens áridas do México e do Arizona. O sentimento de causa e efeito e a assertividade na sequência de cenas está ao nível de Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow, ou do já referido Blackhat, de Michael Mann. Bastam algumas cenas para Denis Villeneuve, o realizador, conseguir extrair actuações de mão cheia que estão apenas sujeitas ao julgamento do espectador enquanto observador da narrativa e de tudo o que ela implica, bem como do filme enquanto estruturação de imagens. Assim está também a personagem de Blunt, que nem por estar num filme chegará a perceber afinal “como é que as coisas funcionam na realidade”. Sabe tão bem ver Sicario, tomara todos os thrillers serem assim tão honestos a todos os níveis...



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