quarta-feira, 15 de março de 2017

Kong: Skull Island (2017)



Quando na descompressão pós-óscares começam a aparecer blockbusters de grande orçamento como este Kong, a vontade é sempre de torcer o nariz, mas Kong demonstra, como alguns outros antes dele, que o preconceito não pode ter lugar cativo no reino dos blockbusters. A verdade é que de vez em quando lá aparece algo que alia genuíno bom gosto à super produção comercial e este é um desses exemplos, a par do recente Godzilla de Gareth Edwards com quem partilha a produção. Kong: Skull Island é uma re-imaginação da trama clássica, mas mais musculada, aventureira, no fundo mais rija, sem grandes romances e romantismos, onde importa o setting, a cinematografia, a ambiência, as personagens, sempre no tom e medidas certos. E, felizmente, o monstro gigante não vai para Nova Iorque trepar arranha-céus. Este não é um daqueles vazios em que só importa a embalagem CGI estapafúrdia, com algumas decisões de argumento até ousadas, sempre sem nunca arriscar muito, mais uma vez no tom e medida certos. A Warner fez questão de não deixar pontas soltas e foi buscar pesos pesado para todos os papéis importantes, e é isso que compõe também o filme o ajuda a colocar-se acima da média. Samuel L. Jackson é o militar duro que lidera a operação a esta ilha misteriosa habitada por criaturas gigantescas, uma espécie de Sargento West de Basic (de John McTiernan, 2003) na ilha de Jurassic Park. As referências a este último são muitas e Kong não se inibe de assumir a sua componente descomprometida, mas segura de si, despretensiosa e conhecedora o suficiente para saber agradar o espectador exigente que esteja com disposição para um filme menos comprometedor. É isso que também faz através da forma como apresenta o macaco gigante que lhe dá o nome, um monstro gigantesco, misterioso, assustador, mortal, sem grandes floreados além dos mitológicos que serão apresentados mais à frente no filme. Para os fãs dos filmes Kaiju, os tais dos monstros gigantes, este Kong é algo plenamente satisfatório. Temos ainda Brie Larson, aventureira e apaixonada, como Julianne Moore era em Lost World: Jurassic Park, sem nunca ceder aos estereótipos que Hollywood teima em colar às leading actresses do cinema de grande produção. John C. Reilly é o maluco que está por lá perdido, provando mais uma vez porque é um dos actores mais versáteis da indústria. Há ainda o sempre superior John Goodman a fazer o aqui não tão desprezível papel de catalizador da expedição que era repugnavelmente ocupado por Jack Black no remake de Peter Jackson de 2005 (este Kong: Skull Island é incomparavelmente mais interessante enquanto produto cinematográfico). Por fim Tom Hiddleston, que na verdade bem podia ser Chris Pratt ou Mark Wahlberg, mas sempre seguro e carismático. No entanto, acima de tudo, está o ambiente e a cinematografia, misterioso q.b. e orgulhosamente vistosa (veja-se a imagem acima), que se mete em bicos dos pés para piscar, sem medos, o olho a Apocalypse Now. Sim, Kong é um grande blockbuster, feito por gente que sabe, sem pretensiosismos, democratizações e moralismos bacocos, com um excelente equilíbrio entre aventura, mistério, horror e comédia. Negá-lo e pô-lo no mesmo saco que porcarias como Transformers, 2012 ou a maioria dos filmes de super-heróis que minam o mercado como a peste negra será um disparate.

Porque é bom: O mistério e ambiente assustador que envolve o macaco gigante são algo de deliciosamente apelativo; grandes actores aumentam e muito a qualidade do filme; excelente cinematografia e produção em geral; despretensioso e seguro de si, sem medo de fazer referências a grandes filmes

Porque é mau: Podia arriscar mais a nível de argumento, afastando-se de certos aspectos algo inocentes que parecem estar a mais num filme que se quer negro, denso, misterioso e inquietante; era escusada a cumplicidade entre Tom Hiddleston e Brie Larson.

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