sábado, 25 de fevereiro de 2017

Fences (2016)


Apesar de muito carismático, Denzel Washington não é um actor versátil. A sombra de homem louco, explosivo, é o papel que tem acompanhado a sua carreira pós 2000 e parece que neste momento é nesse registo que consegue extrair o seu melhor. Fences é prova disso, um filme de actores e diálogos, adaptado de uma peça de teatro que faz da casa de uma família afro-americana dos anos 50 o seu palco, em que Denzel atinge o pico do seu acting agressivo expansivo naquela que é a sua mais interessante interpretação em muitos anos. Um chefe de família carregado de fantasmas pessoais que procura fazer o seu melhor para a sustentar e criar a sua família (é a responsabilidade dele, segundo o próprio) numa amálgama de decisões morais questionáveis mas realistas tendo em conta a época e a condição. É difícil, para não dizer impossível, dissociar Fences da subjectividade das mensagens que transmite, ainda que objectivamente falando aqui tudo ser bom. A camera e os seus actores a interpretar (é o próprio Denzel Washington que os dirige na realização), cenário único, parece ser algo de prazeroso para quem compõe o écrã. E isso é estranho, por vezes estranho demais caindo numa certa vaidade e overacting (de todos!) difícil de gerir. Este pai de família é frio e imoral, não há como escapar-lhe, e dependerá do espectador fazer ou não essa aceitação. O pai de família muito divertido, mas bruto, alcoólico, de passado pesado, que renega o amor pelos seus filhos, quase louco que desafia a morte nos olhos e lhe dirige a palavra, e que diz estar a fazer o melhor que consegue. No fim, quando questonado, fica um sabor amargo, uma interpretação aberta sobre as cicatrizes (dependerá dos valores de cada um) que marcam esta a família ao longo do tempo. Não é claro se Fences pretende tomar alguma posição sentindo alguma mensagem que acaba por filmar. Ficam os intérpretes, os diálogos, a realidade intimista. E isso sim é o grande e poderoso cinema social que Fences tem dentro de si.

Porque é bom: Os diálogos e as interpretações, que são quase todo o corpo do filme; retrato real e intimista de uma família afro-americana ferida com poucas oportunidades na década de 50.

Porque é mau: Cabe ao espectador avaliar os valores e mensagens que Denzel Washington filma, sendo impossível dissociar a qualidade objectiva do filme da subjectividade daquilo que ele transmite; existe por vezes uma certa vaidade na interpretação de Denzel, que conhece bem as suas capacidades e registo em que melhor sobressai.

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