quinta-feira, 19 de maio de 2016

The Lobster (2015)


Yorgos Lanthimos não é realizador cujo estilo se perca na imensidão de realizadores anónimos que se massificam pautando-se por determinadas regras de cinema que parecem as correctas ou adequadas, para o bem e para o mal, de forma a conseguirem fazer cinema “normal”. Não. Lanthimos tem cunho próprio, aquilo que actualmente algumas correntes chamam de art-house, vulgo cinema de autor, voltando a apresentar neste Lobster um produto estranho – como oposto a normal – acerca de uma sociedade distópica onde os solteiros são enviados para um hotel para em 45 dias se apaixonarem sob pena de serem transformados num animal à sua escolha. Parece evidente que o realizador grego procura perseguir um determinado moralismo social acerca da pressão exercida hoje em dia perante os solteiros para que deixem de o ser. Até aqui tudo bem na teoria, é uma temática actual, aliada a uma realização brilhante com composições estéticas belas e criativas, apresentadas com uma banda sonora clássica escolhida a dedo. Mas se esse foco de crítica social em forma de alegoria é mais que actual (na verdade, alguma vez não o foi?) não deveria o espectador sentir-se afectado por ela? É caso para dizer “E se fosse consigo?”. A verdade é que essa questão não se coloca, porque nunca poderia ser connosco. Neste pequeno mundo de laboratório criado por Lanthimos, as personagens são movidas pelo aberracionismo dos seus comportamentos, quais autómatos desprovidos de alma, ou pelo menos alma suficiente que de facto os faça merecer algo mais do que se transformarem num animal, e no caso do protagonista Colin Farrell, numa lagosta. Pobres actores, cuja interpretação está de tal forma manietada por esse aberracionismo que parece que a criatividade da sua profissão está totalmente esgotada pela realização. Contas feitas, The Lobster é uma demonstração cínica de bom gosto estético, visual e auditivo, com interpretações limitadas pela propositada estranheza da distopia onde vivem, cuja preocupação social vai sem quaisquer complexos pouco além da premissa que podemos ler na sua sinopse, tornando-a totalmente ineficaz. Se era esta ou não a intenção, não sabemos, mas Lanthimos não tem vergonha absolutamente nenhuma de seguir este caminho. O tal cinema de autor tem destas coisas, a sua autenticidade puxará sempre pela opinião mais pessoal de quem o vê.

Porque é bom: Soberba realização e estética; banda sonora clássica; boa premissa.

Porque é mau: Interpretações limitadíssimas pela estética do filme; a crítica social é cinicamente posta de lado em detrimento do efeito visual.

Sem comentários: