terça-feira, 31 de outubro de 2017

The Snowman (2017)



Adaptado do bestseller escrito pelo norueguês Jo Nesbo de onde extrai o título, The Snowman, adivinhava-se que o filme fosse algo próximo da linguagem do drama policial noir de algum do cinema de Fincher, por exemplo, algures na linha entre The Girl with the Dragon Tattoo e Gone Girl. É de facto essa a intenção do realizador Tomas Alfredson, aplaudido autor do filme de terror de culto sueco Let the Right One In (2008) e também do jogo de espiões que foi Tinker Tailor Soldier Spy em 2011. A verdade é que na opinião deste que vos escreve, nem um nem outro são filmes de grande consistência cinematográfica, embora se lhes reconheça a originalidade e o estatuto de culto que, pelo menos o primeiro, alcançou. Isso permitiria antever que The Snowman, excelentemente elencado por actores do gabarito de Michael Fassbender, Charlotte Gainsbourg, J.K. Simmons, Val Kilmer e pelo novo valor que é Rebecca Ferguson, fosse pelo menos um thriller agradável, ainda que derivativo. Com efeito, sem grandes adornos, os primeiros 15/20 minutos de Snowman, embora genéricos, são agradáveis, apresentando-nos de forma misteriosa e eficaz o suspense adstricto à forma de actuar do "nosso" assassino aos olhos de uma primeira vítima. A partir desse momento, qual bola de neve, Snowman torna-se numa sequência de cenas forçosamente ligadas, sem qualquer sustentação argumentativa ou dramática, rolando montanha abaixo, qual avalanche, crescendo, tornando-se uma gigantesca bola de disparates, clichés e justificações argumentativas que, não roçam, são efectivamente ridículas. Há um momento particular do filme, um envolvimento pseudo sexual/sedutor entre Fassbender e uma das suas co-protagonistas que é tão forçado e constrangedor que se torna num momento paradigmático para aplicar a agora célebre expressão facepalm. O espectador enterra-se na cadeira, envergonhado pelo embaraço alheio que desfila pelo écrã, não restando outra opção senão rir incrédulo perante algo tão bacoco. Noutra cena do filme, curtíssimas na sua maioria, servindo o mero propósito de fita cola entre plot points (fita cola rasca, castanha, que não agarra coisa nenhuma), Fassbender, precisando de levar documentos confidenciais, pergunta ao seu jovem colega "posso levar isto?". O jovem colega responde "não". Fassbender repete "posso levar isto?". O jovem colega: "ok". Corta! Siga para bingo. A personagem de Fassbender é supostamente uma lenda da investigação policial, que virou alcoólico, e que aparentemente só responde perante um chefe que se apresenta em duas ou três cenas do filme com uma personalidade em overacting completamente injustificada. Na realidade o "nosso" herói apenas bebe numa ocasião do filme, e noutra pede autorização ao estagiário para levar documentos. Que raio de de lenda caída em desgraça é esta? Noutro momento é Rebecca Ferguson quem vê a sua arma confiscada para apenas na cena seguinte abrir o forno de casa e lá ter outra escondida, legitimando assim, com a tal fita cola rasca, a utilização de uma arma por si adiante no filme. E o que se passa com Val Kilmer, mero figurante enfiado sem qualquer critério na trama, qual saco de batatas a ser descarregado de um camião?! Tudo acontece de forma conveniente e apressada, embaraçosa e forçadamente, assim, às claras. Cheio de lacunas de argumento, falhas amadoras de edição, e interpretações que roçam o cómico, Snowman é um completo desastre, daqueles tão maus que se tornam bons, que se tornam cómicos, que se tornam uma vergonha alheia épica para ver com um balde de pipocas e um grupo de amigos, à la The Room de Tommy Wiseau. O confronto final, após uma justificação de algibeira para todos os acontecimentos até então, é algo de comicamente deplorável, com interpretações "abaixo de cão" ausentes de qualquer tensão ou da mínima credibilidade que, pelo menos nesse desenlace, se pedia. Na tal cena de tensão sedutora acima descrita já se adivinhava, pela atitude inexplicável da personagem de Fassbender, que estávamos perante um filme tão mau que não havia nada a fazer. Não admira que tenha procurado afogar as suas mágoas no álcool. Afinal de contas, com este Snowman, quem não o faria? Esperemos que Fassbender, provavelmente o melhor actor da sua geração, consiga recuperar deste desmoronamento.

Porque é bom: Snowman é tão embaraçosa e involuntariamente mau que se torna bom, é impossível não rir perante tamanha vergonha alheia; pelo menos Snowman não se julga mais do que aquilo que realmente é e está longe de ser um filme pretensioso; cria vontade de mostrar o filme a amigos, rindo em conjunto, como por vezes se faz com The Room de Tommy Wiseau

Porque é mau: As interpretações, montagem e argumento são verdadeiramente deploráveis e embaraçosas; todo o filme está preso por arames, com um argumento esburacado repleto de contradições e justificações despudoradamente forçadas; um thriller que está totalmente isento de tensão; personagens vazias que assentam em rótulos predefinidos pelo argumento quanto a aquilo que são, ao invés de de facto o serem.




Sem comentários: