segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Sully (2016)


Sully (ou O Milagre do Rio Hudson, qual dos nomes será mais infeliz? Fiquemo-nos pelo original...), o primeiro filme de Clint Eastwood após o polémico American Sniper, retrata a aterragem de emergência do avião de passageiros pilotado pelo comandante que dá nome ao filme e que teve lugar em pleno rio Hudson, Nova Iorque, em 2009, e toda a burocracia que se lhe seguiu. Não é fácil realizar um filme de forma interessante acerca de uma história que à partida todos conhecem, e conhecendo a lente clínica e directa de Eastwood, sem floreados, seria difícil antever de que forma o veterano realizador conseguiria manter o interesse do espectador ao longo de uma hora e meia. Foi um erro duvidar de que seria possível. Sully é hermético e incisivo como o seu avião. Não tem pontas soltas ou decorações supérfluas, dando todo o espaço necessário a Tom Hanks para desenvolver mais uma interpretação superlativa, que curiosamente tem algum paralelismo com a interpretação dos momentos finais de Captain Phillips. Aaron Eckhart também faz um belo trabalho. São os ingredientes da interpretação de Hanks, aliada à exímia realização de Eastwood, que é um portento técnico, particularmente a nível sonoro (o realismo que o som de Sully transmite ao espectador estará certamente entre os melhores do ano neste departamento), que fazem o filme, e na sua base o cinema é isto mesmo: actor e realizador. Mudando os ingredientes o produto final não atingiria este nível de excelência, uma análise sóbria e silenciosa, ausente de clichés dramáticos, sobre a cabeça de um homem cujo heroísmo chegou a ser posto em causa. Alguém disse, aquando da exibição de Bridge of Spies em 2015, que Tom Hanks é uma boa companhia, o homem certo em quem podemos depositar uma confiança que cinematograficamente já vem de longe. Nada mais acertado, particularmente nesta homenagem ao herói introspectivo comandante Sullenberger, e aqui Hanks não está sozinho. O olho de Eastwood está com ele a cada minuto que passa. Associar Sully a motivações políticas será um erro, como o era em American Sniper. O objecto, o filme, vai muito além dessas considerações subjectivas.

Porque é bom: A soberba interpretação de Tom Hanks; o portento técnico da realização de Eastwood, em particular o som; a visão incisiva e sem floreados ou clichés supérfluos acerca do acto de um herói comum.

Porque é mau: O interesse em Sully vai pouco além dos seus excelentes ingredientes técnicos de interpretação e realização, correndo o risco de ser pura e simplesmente considerado um filme irrelevante para a maioria do público.



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