domingo, 11 de setembro de 2016

Especial Motelx 2016 - Dia #4: Cannibal Holocaust (1980), February (2015), Sam Was Here (2016)



Continuamos no Motelx 2016 para o seu quarto dia de festival, onde vimos o icónico Cannibal Holocaust, de 1980, apresentado pelo próprio realizador Ruggero Deodato, February de Osgood Perkins e Sam Was Here, o low-budget horror de Christophe Deroo. Foi um dia interessante pela possibilidade de ver o filme proibido de Deodato, mas infelizmente o resto não satisfez.

Cannibal Holocaust: Este é o infame filme de Deodato, considerado por muitos como o filme mais perturbador e violento de todos os tempos, que foi banido em diversos países tendo inclusivamente originado a detenção do realizador que teve que provar em tribunal que os actores do filme estavam vivos. não se tendo livrado de uma pena suspensa de 4 meses por obscenidade. É um exploitation horror que usa o conceito de found footage para desvendar o que aconteceu a uma equipa de produção que foi para a Amazónia realizar um documentário sobre as tribos canibais, altamente violentas, da região. E é de facto chocante, ainda hoje em dia, muito pela utilização de imagens hiper-realistas que dão um cunho perturbador provavelmente nunca antes visto em cinema. Deodato não se fica pela tortura, mutilação, violação e exposição de órgãos do ser humano, entre canibais e ocidentais exploradores, como que observando o comportamento natural destas tribos altamente violentas. Além disto, Deodato filma a morte sem escrúpulos de alguns animais levada a cabo pelas personagens, e é engraçado ver como a audiência reage em 2016 à violência de Cannibal Holocaust, em que aparentemente a morte dos animais (real e sem artifícios) choca mais que uma mulher empalada como vemos na imagem. Além de todo o conteúdo extremo deste exploitation, é na realidade a camera de Deodato a grandes estrela que transporta todo o realismo das tribos filmadas na floresta virgem da Amazónia, de uma observação fria e letal, manietada, sem poder reagir. É realmente notável o marco que Deodato conseguiu atingir com Cannibal Holocaust, horrivelmente obsceno e ofensivo para muitos, sim, mas a verdade é que puxa os limites da imagem em cinema a um máximo. Haverão outros como ele com certeza, mas o horror inerente ao seu próprio conceito e localização é incontornável.




February: Não é fácil analisar February porque efectivamente não estamos perante um filme ignorante, que use lugares comuns para criar um filme de terror slow burn, de ritmo lento e atmosférico. Acompanhamos duas alunas de um colégio interno cujos pais ainda não as foram buscar para passar as férias de Inverno, vendo-se forçadas a aguardar na escola por uns dias, apenas acompanhadas por duas funcionárias. A intenção é clara: criar uma atmosfera de tensão e desconforto em crescendo para um desenlace que se pretenderia satisfatório, mas isso está longe de acontecer. Existem aqui bons momentos de cinema, particularmente em alguma da cinematografia, mas tudo o resto é demasiado pobre. O desenvolvimento de personagens, que aqui é parte absolutamente decisiva para o desenlace, é praticamente inexistente, e o ritmo lento a que a trama se desenvolve, em paralelo observando uma terceira rapariga que está a caminho do colégio, não possui qualquer substância que acompanhe o seu estilo imagético, que até é bastante bom. Adoramos terror slow burn, é talvez o favorito (The House of the Devil, por exemplo, é uma obra prima), mas em February nem o crescendo nem o clímax têm algo mais a oferecer que a sua imagem, provocando desinteresse num vazio argumentativo, que não passa de uma linha expositiva de acontecimentos com pouco ou nenhum significado e impacto para o espectador.




Sam Was Here: Foi no Motelx a estreia internacional de Sam Was Here, primeira longa-metragem do francês Christophe Deroo, que infelizmente é demasiado low-budget para o seu próprio bem. A ideia é boa: um vendedor que se vê isolado nas paisagens do deserto do Mojave, na Califórnia, onde aparentemente tudo está abandonado e as pessoas desapareceram. A única coisa que existe e funciona é um programa de uma rádio local que vai informando acerca de um assassino que estará à solta nas redondezas. Dito assim parece que estamos perante um filme interessantíssimo, mas infelizmente a execução, que em cinema se sobreporá sempre à ideia, é demasiado deficiente, o que é pena porque Deroo está cheio de boas intenções com este Sam Was Here, que até tem uma boa cinematografia, mas será só. A interpretação principal deixa muito a desejar, assim como os diálogos, nunca conseguindo saltar aquela barreira que separa o filme amador do profissional, o que em alguns momentos é constrangedor. Se Deroo tivesse tido melhores ferramentas para trabalhar, e um budget substancialmente maior, Sam Was Here seria certamente totalmente diferente.

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