quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Don't Breathe (2016)


Filme de abertura do Motelx 2016, Don't Breathe não só é um soberbo thriller como é um dos melhores. Chegámos a uma altura em que no âmbito do cinema de terror e thriller de uma forma geral é muito difícil encontrar um conceito original que se traduza numa verdadeira sensação de expectativa pela novidade. Felizmente em 2016 já tivemos um, 10 Cloverfield Lane. Em Don't Breathe, a simples ideia (desde que bem executada, claro) de colocar três jovens a assaltar a casa de um cego que afinal não é assim tão indefeso como parece é suficiente para, pelo menos, aguçar a curiosidade. Só que nesta produção do lendário Sam Raimi, realizador de Evil Dead de 1981 e um dos pais do horror série B, aqui realizada por Fede Alvarez, que também realizou em 2013 o remake de Evil Dead, Don't Breathe não se limita a explorar esta premissa, que, convenhamos, seria facilmente esgotável, mas antes a renová-la ao longo da hora e meia de filme. Não existe aqui qualquer enchimento de chouriços ou mesmo backgrounds de personagem desnecessários. Tudo em Don't Breathe é introduzido com um propósito, com peso e medida, como um jogo de tabuleiro cuja meta se vai tornando cada vez mais difícil de alcançar com o avançar das casas, que aqui é só uma. Não nos alongaremos muito sobre as voltas e reviravoltas de Don't Breathe (se nem o trailer o quer fazer, longe de nós estragar as surpresas), mas são de encher a barriga convincentemente, jogando com as responsabilidades morais do próprio espectador. Aliado a tudo isto está a realização de Alvarez, que demonstra ao mesmo tempo uma faceta observadora e outra ofensiva e exasperante, com um sexto sentido que se poderia chamar "tensão", que se junta aos pilares olfacto, visão e audição e que são as regras desta casa escura. Não é perfeito, a recta final é algo soluçante e existem momentos em que a tensão solidamente construída esbarra com o terror série B menos comprometedor que corre nas veias de Fede Alvarez, mas isso são apenas minúsculas nódoas num quadro quase imaculado e que até podem, e talvez até funcionem, como vantagens.

Porque é bom: Premissa original que se vai renovando ao longo do filme; realização tensa e sólida, adocicada por um descomprometimento série B delicioso; os dilemas morais dos próprios espectadores.

Porque é mau: A recta final é ligeiramente desequilibrada.

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