domingo, 24 de fevereiro de 2019

Especial Óscares 2019 - Previsões, preferências, ausências e curiosidades - The Fading Cam


Mais um ano passou e está entre nós a 91ª Cerimónia dos Oscars. 2018 foi um ano que deixou algo a desejar no que diz respeito à sétima arte. A dificuldade de surpreender pela originalidade e o refrescamento de ideias já recorrentes na época dos prémios do cinema fazem com que a presente cerimónia seja mais do mesmo. Fica ainda marcada pela ausência de alguns dos melhores e mais originais filmes do ano, como First Reformed ou Hereditary. Não existiu este ano nenhum filme digno de 5 estrelas, mas First Reformed esteve muito perto. A pressão mediática para que certos filmes fossem nomeados, tais como Black Panther ou Bohemian Rhapsody também mancha a celebração da qualidade cinematográfica este ano. As temáticas raciais e políticas continuam a dominar os nomeados, às quais se acrescenta uma outra, a música, ou dever-se-á dizer a celebração de Lady Gaga enquanto activista pop. Por outro lado é a primeira vez em alguns anos em que não existe um grande favorito a vencer, pelo que deverão existir várias surpresas. É também a primeira cerimónia em décadas a não ter apresentador. A Academia precisa de se deitar no divã da psicanálise e rever bem o seu papel. Estamos a falar da celebração do cinema ou de activismo político-social?

As notas do The Fading Cam aos 8 nomeados para melhor filme

Black Panther

BlacKkKlansman

Bohemian Rhapsody

The Favourite

Green Book

Roma

A Star Is Born

Vice


As previsões, preferências e potenciais surpresas:

Óscar de melhor filme:
Quem vai ganhar - A Star is Born 
Quem deveria ganhar - BlacKkKlansman
Quem pode fazer uma surpresa - Roma ou Bohemian Rhapsody


É muito difícil prever quem irá ser o grande vencedor da noite. É provável que a popularidade de A Star is Born junto do público e da crítica lhe atribua a estatueta de melhor filme. Roma poderá no entanto ganhar. O filme da Netflix quebrou barreiras e levou o cinema de autor às grandes massas, que puderam apreciar aquele que é tecnicamente o melhor filme do ano. Ainda assim, BlacKkKlansman acaba por ser o filme mais equilibrado de entre os nomeados, percorrendo vários géneros cinematográficos com uma realização eclética de Spike Lee. Essa seria a nossa preferência. Apenas porque o melhor filme do ano, First Reformed, não está sequer nomeado.

Óscar de melhor realizador:
Quem vai ganhar - Alfonso Cuarón (Roma)
Quem deveria ganhar - Alfonso Cuarón (Roma)
Quem pode fazer uma surpresa - Spike Lee (Blackkklansman)


Tudo indica que Alfonso Cuarón volte a vencer o óscar de melhor realizador. Em Roma, Cuarón transcende-se e entrega um filme fascinante a nível visual, lembrando a espaços a realização de Hou Hsiao-Hsien. A composição de plano e o movimento de câmara elevam Roma perante toda a competição, com uma fotografia de uma beleza avassaladora a preto e branco, ilustrando o quentes México dos anos 70 sem precisar de recorrer à palete seca que normalmente associamos a tal cenário. É uma pena para a fusão de géneros de Spike Lee ter tamanha competição, mas quem sabe não haverá uma surpresa.

Óscar de melhor actriz principal:
Quem vai ganhar - Glenn Close (The Wife)
Quem deveria ganhar - Olivia Colman (The Favourite)
Quem pode fazer uma surpresa - Lady Gaga (A Star is Born)


Glenn Close foi a vencedora do Globo de Ouro para melhor actriz e a veterana nunca venceu um Óscar apesar desta ser já a sua sétima nomeação. É muito provável que a Academia decida premiar a sua carreira com a interpretação em The Wife. Ainda assim a melhor interpretação feminina do ano pertence a Olivia Colman, no papel da rainha Anne da Grã-Bretanha debatendo-se com os seus traumas e problemas de saúde que a fazem definhar no écrã no bizarro e maravilhoso The Favourite. Apesar de tudo isso, só se fala de Lady Gaga. Seria vergonhoso se a cantora levasse o Óscar para casa.

Óscar de melhor actor principal:
Quem vai ganhar - Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Quem deveria ganhar - Willem Dafoe (At Eternity's Gate)
Quem pode fazer uma surpresa - Bradley Cooper (A Star is Born)


Apesar de ser na nossa opinião um exagero, a interpretação de Rami Malek enquanto Freddie Mercury é de longe a mais badalada, mas por uma larga margem Willem Dafoe deveria (finalmente) vencer merecidamente o Óscar que já lhe ficou a faltar no ano passado em The Florida Project. Em At Eternity's Gate, Dafoe tem provavelmente a melhor interpretação da sua carreira. Se A Star is Born se revelar o grande vencedor da noite quem sabe se Bradley Cooper  também não poderá ganhar.


Óscar de melhor actriz secundária:
Quem vai ganhar - Emma Stone (The Favourite)
Quem deveria ganhar - Emma Stone (The Favourite)
Quem pode fazer uma surpresa - Marina de Tavira (Roma)

Emma Stone arrisca-se a ganhar o segundo Óscar aos 30 anos com um belíssimo papel em The Favourite, e diga-se bem mais merecido que o Óscar por La La Land. A sua personagem apresenta-se frágil e dócil, apenas para se revelar ao longo da trama algo de bem mais negro, naquele que é um dos melhores desenvolvimentos de personagem do ano. A severa Rachel Weisz não lhe fica muito atrás, mas Stone sai por cima. Marina de Tavira é também excepcional em Roma. É uma categoria imprevisível onde qualquer uma das nomeadas pode sair vencedora.


Óscar de melhor actor secundário:
Quem vai ganhar - Sam Elliot (A Star is Born)
Quem deveria ganhar - Adam Driver (BlacKkKlansman)
Quem pode fazer uma surpresa - Mahershala Ali (Green Book)


Mais uma categoria equilibrada onde por algum motivo Sam Elliot aparenta ser o favorito. Se este é o melhor papel da sua carreira, então algo está mal. Adam Driver tem um brilhante papel em BlackKkKlansman, ainda melhor que o do protagonista John David Washington. Poder-se-á dizer igualmente que este não é o melhor papel da carreira de Adam Driver, mas é bom o suficiente para o (ainda) jovem actor de culto levar já a sua primeira estatueta da carreira. Mahershala Ali também poderá vencer o seu segundo Óscar, mas ficaria mal entregue.



Óscar de melhor argumento original:
Quem vai ganhar - Roma
Quem deveria ganhar - First Reformed
Quem pode fazer uma surpresa - The Favourite


É aqui que se percebe a grande injustiça na lista de nomeados aos Óscares, quando First Reformed apenas é nomeado para melhor argumento original. Paul Schrader, argumentista de Raging Bull e Taxi Driver, escreve e realiza o melhor filme do ano, onde um padre desafia a sua própria fé, o amor e as crenças na obra divina de Deus. O argumento de Roma é também soberbo, e deve ser o grande vencedor. The Favourite é também escrita para análise, mas perde o favoritismo para Roma.



Óscar de melhor argumento adaptado:
Quem vai ganhar - A Star is Born
Quem deveria ganhar - BlacKkKlansman
Quem pode fazer uma surpresa - BlacKkKlansman


A Star is Born aparenta ser favorito, mas BlacKkKlansman pode levar aqui a sua única estatueta da noite. Com um argumento brilhante que percorre vários géneros, este era o filme que a América de Trump precisava de ver. Do drama à comédia, passando pelo buddy cop movie dos anos 80, e com alguns toques de verdadeiro horror, é difícil dizer que The Favourite é mais bizarro que o filme de Spike Lee. Fossem todos os filmes políticos como BlacKkKlansman e estava a cerimónia recheada de melhores obras.




Os três grandes filmes que a Academia decidiu ignorar:


First Reformed 


Este é mesmo o snub mais imperdoável desta edição dos Óscares. First Reformed não só é um grande filme, como é o melhor filme do ano. Paul Schrader, argumentista de Taxi Driver e Raging Bull, regressa à grande forma, desta vez na realização, e entrega uma obra-prima na pele de Ethan Hawke, um padre que começa a duvidar da sua fé. A Academia apenas o nomeou para melhor argumento original. Não o fazer seria vergonhoso. Mais vergonhoso ainda é ter ficado conscientemente de fora de todas as outras categorias, principalmente quando, de entre 10 nomeados possíveis para melhor filme, a Academia escolheu nomear apenas 8. Um deles é Black Panther.



First Man 

Estranhíssimo que depois de todo o hype recebido por Damien Chazelle, vencedor do Óscar para melhor realizador com La La Land, o seu novo filme tenha ficado de fora das principais categorias e tenha sido quase um flop de bilheteira. A história de Neil Armstrong, num underacting espantoso de Ryan Gosling, e a chegada do Homem à Lua é um portento técnico cinematográfico. Um documento biográfico/histórico de rara frieza e objectividade, uma lição sobre como fazer o biopic. A lição pelos vistos não agradou à Academia.




Hereditary 

É difícil que um filme de género terror seja contemplado nos Óscares, mas no ano passado não foi precisamente isso que aconteceu com Get Out? Hereditary é um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, dotado de uma realização clínica e inspirada de Ari Aster e uma interpretação soberba de Toni Collette, que não só deveria estar nomeada para melhor actriz, como poderia mesmo vencer a estatueta.



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