sábado, 8 de setembro de 2018

MOTELX 2018 - Críticas Dia #3: One Cut of the Dead (2017), Hagazussa: A Heaten's Curse (2017), Cutterhead (2018), Pledge (2018)

O terceiro dia do Motelx 2018 teve ofertas variadas e originais, confirmando-se como mais um dia de celebração do género de horror. O japonês One Cut of the Dead apresenta uma invulgar comédia sobre uma comédia de terror, ao mesmo tempo que Hagazussa: A Heaten's Curse é um dos filmes mais perturbadores e artisticamente meritórios desta edição. Cutterhead trouxe-nos a claustrofobia, enquanto o adolescente The Pledge ganhou espaço na sessão da meia-noite. Eis o que achámos:

Hagazussa: A Heaten's Curse: Hagazussa, um dos filmes em competição para melhor longa metragem de terror europeia, dificilmente será batido nesta edição do festival, não só entre os candidatos, mas entre a programação em geral. Esta é a história do dia a dia de uma jovem que vive isolada da sua comunidade no séc. XV, após a morte da sua mãe, que os aldeões acusavam de ser uma bruxa. Na realidade a descrição narrativa pouco importa na experiência sensorial fora de série perturbante e atordoante que é Hagazussa. O seu conceito não é o de contar uma história mas sim o de transpor o espectador para a rotina desta mulher isolada, herege, comparada à sua mãe, e que se sugere conviver com o diabo. Observamos a sua rotina, a natureza que a rodeia no campo, a ritmo lento, sempre atmosférico, vertiginoso, construindo o horror camada sobre camada até dar a machadada final no espectador. Hagazussa não é um filme para todos os espectadores nem para todos os estômagos. Lukas Feigelfeld, o realizador austríaco, consegue um trabalho de excepção na cinematografia e banda sonora do filme, constantemente compenetrando o espectador no seu cenário paisagístico bucólico e fantasmagórico, com uma pontual palete de cores que nos transporta à alucinação e à paranóia deste modo de vida. No seu clímax, o ritmo lento caminha para algo de doentio, provocando habilmente o espectador ao ponto de abandonar a sala. Como se disse atrás, Hagazussa não é para todos os estômagos, mas é uma das mais brilhantes experiências sensoriais de género dos anos recentes. Dificilmente o Motelx exibirá filme tão marcante nesta edição.




One Cut of the Dead: Uma das mais interessantes e originais propostas desta edição do Motelx, One Cut of the Dead caracteriza-se pela sua estrutura invulgar e elogio ao "faça você mesmo" que caracterizou algumas produções historicamente falhadas da indústria cinematográfica, piscando o olho a cineastas como Ed Wood, mas ao mesmo tempo admirando George Romero ou Wes Anderson. Abrindo com um único plano sequência de 37 minutos, One Cut of the Dead é a desconstrução (aqui sim, a vã palavra assenta que nem uma luva) do amor ao cinema de terror, da vontade de o produzir, do tapar atabalhoado dos problemas das produções amadoras, caracterizando-as com mestria e amor, numa comédia deliciosa. Há poucos filmes que sejam tão pouco pretensiosos como este elogio ao terror. One Cut of the Dead é um dos filmes mais sólidos que passou por esta edição do Motelx.




Cutterhead: Produção dinamarquesa, Cutterhead insere no horror realista claustrofóbico ao colocar uma repórter e dois mecânicos de escavações presos numa escavação de grande orçamento de projecto europeu. A narrativa é a esperada: conflitos morais, desespero de sobrevivência e uma bem sucedida claustrofobia que nunca abandona os protagonista. No entanto, o fechar de portas a algum facilitismo comercial que tal conceito podia gerar e o ultra realismo reproduzido dá a Cutterhead vantagem, tornando um belíssimo exemplar de microgénero que consegue reproduzir com fidelidade a provável reacção dos seus espectador perante tal situação. Aqui não existem heróis confessos e a fragilidade psíquica das personagens será explorada com mestria. Pena que seja apenas isso, um filme conceito ultra realista que se desenrola na tela sem sobressaltos ou criatividade.





Pledge: A sessão de meia-noite da sala 3 do Motelx por excelência, Pledge é um filme de terror de baixo orçamento a roçar o amadorismo, mas empoderado por uma enorme dose de boa vontade, colocando 3 apelidados nerds numa tentativa de ingressar numa qualquer fraternidade universitária norte-americana. Naturalmente, nas praxes, algo corre mal e os 3 protagonistas terão que lutar pela sobrevivência. Pledge é um filme cheio de boas intenções e vontade de ter criatividade narrativa, técnica, e até moral (a mensagem anti praxe é coxa e indecisa entre a moralidade e o entretenimento), mas é impossível dissociar-se o produto final da carta de amor que os envolvidos na sua produção querem enviar ao género de horror. Raramente credível pelo seu amadorismo, e levando-se por vezes demasiado a sério, exagerando nos twists, Pledge fica pela intenção e pelo esforço, mas é difícil levá-lo a sério. Demasiadas cenas são cópias de outros filmes (a tortura de rato dentro de balde de metal quente é cópia chapada de Fast & Furious), e notam-se bem as influências dos guionistas. Será, no entanto, um belo momento de entretenimento Motelx com os amigos.




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