O terceiro dia do MOTELX 2017 foi variado, do home invasion/exploitation de Better Watch Out, ao drama familiar com elementos de fantástico de Untamed, passando pela bela homenagem a Roger Corman na mítica sala do Tivoli com a exibição de Masque of the Red Death de 1964, o filme mais interessante do dia.
Better Watch Out: A originalidade é um conceito quase
impossível no cinema de 2017. Pode parecer um lugar comum, mas ao longo de mais
de 120 anos de história da sétima arte já tudo foi feito, nem que seja
conceptualmente. Better Watch Out quer surpreender as regras de género
pré-estabelecidas, colocando, num primeiro momento, babysitter e miúdo de 12
anos sozinhos em casa no Natal perante uma home
invasion à Sozinho em Casa versão terror. Tudo expectável e agradavelmente
bem feito até um realmente inesperado plot twist que transforma Better Watch
Out num esquisito torture porn à
Funny Games de Haneke ou, mais recentemente, Knock Knock de Eli Roth, que desafia
a curiosidade do espectador com interpretações verdadeiramente bizarras.
Nota-se bem que a intenção é fazer algo diferente, algo de negro/sádico num
contexto idílico de renas e jingle bells,
e a verdade é que funciona bastante bem. Better Watch Out é um filme de Natal fora
do contexto para os meninos maus que não gostam de seguir regras.
The Untamed: Vencedor
do Leão de Prata em 2016 para melhor realizador em Veneza, The Untamed é um
drama familiar com elementos de fantasia que é diferente do habitual, mas que
não assume interesse particular em nenhum momento, além de um moderado mistério
que pouco vai além da simbologia de luxúria. Cinematograficamente irrelevante,
é difícil de perceber o elogio de alguma crítica à sua realização, anónima, com
um argumento irregular que deixa vazias as poucas questões que coloca. Além do
seu retrato social que tem, a espaços, momentos de interesse, The Untamed tem
alguma alma, mas acaba por não concretizar nenhuma das muitas ideias que vai
sugerindo, sempre de forma tímida, como se temesse o comprometimento.
The Endless: Apresentado no Motelx pela sua dupla de
realizadores através de vídeo, The Endless fala de dois irmãos, interpretadores
pelos próprios realizadores, argumentistas, entre outras inúmeras funções onde
constam nos créditos, que escaparam de um culto/comunidade quando eram jovens e
decidem voltar 10 anos depois para ver se tudo era realmente como se lembravam.
Em primeira instância, apesar de uma certa sensação de amadorismo, o filme está
bem embalado, com uma boa trama, mas com o decorrer do tempo e introdução
repentina de elementos de fantasia deitam tudo por terra, fazendo com que The
Endless se aproxime mais de um episódio de uma qualquer série do Sy-fy ao invés
de um filme de terror/mistério independente. The Endless quer ser muita coisa,
do drama familiar ao terror, é ambicioso e com muitas ideias que infelizmente
não conseguem passar eficazmente para o écrã em nenhum momento.
The Masque of the Red Death: Roger Corman veio ao Motelx como convidado de honra e
apresentou na belíssima sala do Tivoli o seu filme de 1964, The Masque of the
Red Death, um filme adaptado de um conto de Edgar Allan Poe em que um príncipe
europeu por volta do séc. XIV, magistralmente interpretado por Vincent Price, adorador
de Satanás, aterroriza os camponeses enquanto dá festas luxuosas no seu
castelo, protegendo os seus ocupantes de uma peste vermelha que assola a
região. Deliciosamente teatral, The Masque of the Red Death é um filme de
género fantástico superior, uma reflexão influenciada pelo Sétimo Selo de
Bergman sobre luxúria, desejo e filosofia pós-morte pelas acções em vida, com
uma realização inspirada de Corman que utiliza uma palete de cores fortes
impressionante que só se veria assim elogiada no écrã com Suspiria de Argento
para contar a sua intrigante história. O conto medieval de mistério
dificilmente será superior a Masque of the Red Death no cinema.
Sem comentários:
Enviar um comentário