Um quarto dia com propostas que foram do thriller psicológico ao slasher viu curiosamente num dos filmes menos esperados e com menor audiência, o sul-coreano Missing You, pelas 14h, um dos pontos mais altos do Motelx. O muito aguardado Lowlife foi elogiado por algum do público presente, mas esta comédia negra gangster com um lado humano ficou-se pelas intenções. Estava também agendado A Dark Song para as 00.30h, mas um problema técnico adiou por uma hora a sua exibição o que nos impediu de o ver.
Missing You: Foi talvez o melhor filme a passar pelo quarto dia do Motelx, com uma sala a meio gás logo a seguir ao almoço. Missing You é um thriller de vingança em contexto policial ao jeito habitual da nova vaga do excelente cinema sul-coreano, numa realização muito bem afinada do estreante Hong-jin Mo, com um trabalho de camera tenso e uma belíssima cinematografia. É um filme que recorda Se7en de Fincher ou The Chaser de Hong-jin Na, entre outros filmes sul coreanos do género, com personagens fortes, assim como o seu argumento, acompanhando a já elogiada realização. No entanto existem momentos em que Missing You parece esforçar-se demasiado para entregar tensão e pequenos clímaxes, não deixando as suas personagens respirar e existir durante alguns momentos, ao invés de estarem constantemente a agir. Esse empacotar de acção acaba por criar em Missing You camadas de interesse diferentes para o espectador, cada camada com a sua personagem principal, e com ela as suas motivações e linha argumentativa, entre as várias que existem. Ainda que todas tenham os seus pontos de interesse, a do assassino e detective são sem dúvida superiores a uma terceira, uma linha argumentativa no feminino que se torna estereotipada e superficial, num papel que exigia exactamente o oposto. O excesso de acção, ainda que eficaz formalmente e substantivamente, torna a globalidade do filme num relato superficial que acaba por não conseguir dar a machada emocional que pretende no final, num filme muito ambicioso para um realizador que ainda não tem a maturidade suficiente para o dirigir com plena mestria mas que dá já sinais muitíssimo positivos.
Berlin Syndrome: Apresentado como um thriller psicológico intenso em que uma turista australiana se vê presa em cativeiro em casa de um engate de férias, Berlin Syndrome na realidade arrasta a sua antecipada trama repetitivamente, num arrastão que tem paralelo entre o espectador e o próprio filme. Num primeiro momento a psicologia das personagens, o seu maior fulcro (não vale a pena pensar em Berlin Syndrome de forma muito mais profunda que isto; se o filme fosse metáfora para os mistérios da vida sexual dos jovens adultos os nossos protagonistas seriam bem mais...jovens adultos) é bastante realista, mas a partir de determinado momento a realizadora Cate Shortland prefere elogiar a dramatização estilo conto de fadas macabro, com muitas polaróides e afirmações de estilo desnecessárias que farão rolar os olhos do espectador mais objectivo, ao invés de se focar na tal tensão que nunca existe ao longo de todo o filme, com excepção do seu desenlace de cortar à faca merecedor de elogios. Infelizmente, o caminho para chegar a esse momento é cinzento, penoso, longo e repleto de chouriços que custam a encher, quanto mais a saborear.
Lake Bodom: Filme a concurso para o prémio de melhor longa metragem de terror europeia no Motelx, Lake Bodom é um teen slasher finlandês com elementos de crítica social a problemas actuais como o bullying tão deslocados que se torna constrangedor. Inicialmente observamos um grupo de quatro adolescentes que decidem passar a noite num lago remoto onde existiu um crime misterioso e macabro há 50 anos atrás. O momento que "algo corre mal" acontece cedo demais, seguido de um plot twist forçado e sobretudo desinteressante que precisa de utilizar um terço do total do filme para ser explicado ao espectador, de forma bacoca, moralista e constrangedora que não devia ter lugar, ainda para mais quando é o primeiro a objectificar a sua feminina personagem principal, seguindo para um terceiro acto confuso, repleto de plot holes, que se esforça para imitar, apenas à superfície, filmes como Wolf Creek. O que safa Lake Bodom da mediocridade do seu mau gosto é a excelente cinematografia que apresenta, verdadeiramente fantástica, que merecia um argumento bem melhor.
Lowlife: A forma como o realizador de Lowlife falou do seu próprio filme, a seguir à sua exibição, relevando os aspectos sociais que explora (tráfico de órgãos e seres humanos perto da fronteira com o México) ao invés da comédia negra tarantinesca que realmente observamos no écrã permite dizer que das duas uma: ou Ryan Prows leva o seu filme demasiado a sério, numa auto-avaliação que só pode existir num universo paralelo, ou então Lowlife falhou completamente os seus objectivos. Contada através de três perspectivas diferentes que convergem para um quarto segmento final, a história de lowlife fala em jeito de comédia negra de criminosos e toxicodependentes num contexto de tráfico de órgãos que apenas serve precisamente para isso: contexto. O lado "sério" de Lowlife nunca é realmente explorado, mas com a sua apresentação light e tragicómica, que relembra a aselhice de momentos como a limpeza do automóvel banhado de sangue em Pulp Fiction, Lowlife consegue ser bom entretenimento, com personagens bizarras e bom humor de situação. Infelizmente não vai além disso.
Sem comentários:
Enviar um comentário