Não será nunca uma lista consensual. O cinema é arte para sentir e uma arte para ver. Nesta lista caberão todos os filmes que mais sentimento transmitiram e maior entretenimento proporcionaram. Aqueles que, na nossa opinião, mais fizeram pelo cinema esta década. Eis a segunda tranche:
Provavelmente não existe nenhum realizador neste momento em Hollywood a gastar milhões tão bem como Nolan. Dunkirk é mais um filme com uma estrutura original, e, dentro do cinema comercial, talvez o mais intenso da década. Tecnicamente irrepreensível, Nolan coloca o espectador na cadeira de observador, sem personagens principais, sem heróis, apenas observando o horror, o movimento.
139º "Locke" (2014) - Steven Knight
Num exercício original pela sua estrutura e tom underwhelming, Knight filma Locke numa localização única, com um Tom Hardy superlativo no interior do seu carro, procurando resolver a sua vida profissional e familiar. Uma espécie de thriller que joga com as regras da vida da pessoa comum ao invés de terroristas e assassinos. Poderia parecer apenas uma tentativa de algo que se quer diferente à força, mas Locke nunca perde a solidez do seu argumento.
138º "Sully" (2016) - Clint Eastwood
Eastwood volta à glorificação do herói do dia a dia, com a história real do piloto que aterrou um avião comercial de passageiros em pleno rio Hudson após uma avaria técnica. Poderia ser mais uma xaropada americana, mas com Eastwood não o é. Nunca é. Sully é um filme sempre ciente da sua estabilidade argumentativa, que entrega ao espectador um Tom Hanks (um herói do dia a dia) em excelente forma. E depois existe ainda o soberbo trabalho de edição e mistura de som...
137º "The Visit" (2015) - M. Night Shyamalan
Foi o tão esperado regresso de Shyamalan à boa forma depois de atrocidades como The Last Airbender. Uma comédia de terror criativa que joga com as regras do género para criar algo que afinal nem é assim tão assustador? Um filme sem uma pinga de pretensiosismo que nunca se leva demasiado a sério, com a realização que sempre foi cunho de Shyamalan. Umas vezes resulta, outras não. Aqui resultou muito bem.
136º "The Flowers of War" (2011) - Yimou Zhang
Drama de guerra do veterano realizador chinês, Bale (mais uma grande interpretação) é um padre americano enviado para ser responsável por uma catedral ocidental em plena capital da China, em 1937, que serve de refúgio a várias mulheres perante os horrores da invasão japonesa que tomou de assalto a capital. Zhang não se preocupa,e bem, com a reconstituição histórica do que se passou, mas sim com o drama de personagem, o vulnerável padre, e as mulheres que procura proteger. Pode ser apelidado de melodrama, como é apanágio recente do realizador, mas tomara todos os melodramas serem assim.
135º "The Ides of March" (2011) - George Clooney
Clooney sempre teve jeito para este tipo de filmes de bastidores, clinicamente frios, crus e amorais. Relembremos Michael Clayton. Gosling faz dupla nesta guerra fria política negra e viciante, a lembrar a linguagem dos velhos filmes noir.
134º "Call Me By Your Name" (2018) - Luca Guadagnino
Pode ser chocante para alguns que a obra que catapultou Guadagnino esteja tão em baixo na lista. É verdade que Call Me By Your Name é uma belíssima história de um primeiro amor contado através dos olhos do jovem Elio, mas não é por isso que deixa de ser um filme contraditório em algumas das suas filosofias para onde remetemos a leitura da nossa crítica completa. Que é um objecto de extrema beleza onírica, disso não restam dúvidas.
133º "Shoplifters" (2018) - Hirokazu Koreeda
Fantástico drama social da realidade japonesa, Koreeda assina mais um grande filme familiar, liberto de pretensiosismo e auto-comiseração. O realizador não se fica pela observação de Ozu, numa linguagem semi-documental, dedicando o último terço da película à dissecação objectiva daquilo que apresentou, para devastação emocional do espectador.
132º "Interstellar" (2014) - Christopher Nolan
Outro belíssimo exemplar de entretenimento comercial de Nolan, desta vez aventurando-se no espaço e no tempo. Já foram mais que debatidos os erros científicos que o filme alegadamente apresenta, mas afinal isto é cinema para ver ou para fazer contas à vida? Um McConaughey em pico de forma e um extraordinário visual fazem de Interstellar um dos thrillers mais entusiasmantes da década.
131º "Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi" (2017) - Rian Johnson
Um filme adorado pela crítica, mas não tanto pelos fãs, Rian Johnson está mais preocupado em realizar um grande thriller de ficção científica do que propriamente fazer fan service. Por vezes esquecemo-nos que estamos a ver um Star Wars para viajar num argumento que parece ter vida própria, transposto para a tela com uma mestria imagética e de suspense de rara eficácia. The Last Jedi é o melhor Star Wars desde a trilogia original.
130º "Insidious" (2011) - James Wan
Com The Conjuring, James Wan é o realizador americano responsável pelos melhores blockbusters americanos de terror da década. Insidious joga com todos os clichés do género, sem quaisquer problemas de auto-estima, para construir uma atmosfera de horror de extrema eficácia. Apesar do seu elevado orçamento, consegue parecer um pequeno filme de terror que se deixa queimar lentamente. Delicioso.
129º "Joker" (2019) - Todd Phillips
Não exageremos. Apesar de ser um fantástico crowd pleaser, Joker não é o melhor filme do ano, não é o melhor filme da década, e certamente não é o melhor filme desde 2001: Odisseia no Espaço. Mas é, por mérito próprio, um grande filme. Com mais uma grande interpretação de Joaquin Phoenix, Joker foge da linguagem comum dos filmes de super heróis para se assumir um drama psicológico que poderia estar a falar de outra personagem qualquer. Bebendo de algo tão distinto deste universo de heróis e vilões, Joker aproxima-se mais um Taxi Driver de Scorsese do que de um Dark Knight de Nolan.
128º "Wind River" (2017) - Taylor Sheridan
Um misterioso thriller policial nas terras do deserto branco do Wyoming, Jeremy Renner e Elizabeth Olsen dão cartas num argumento sólido que poderia ter sido escrito por Fincher. Transportando o espectador para o seu desconfortável manto frio onde parece não haver regras, Wind River é um belíssimo exemplo de construção atmosférica e de personagem.
127º "Rush" (2013) - Ron Howard
Filmes de carros, algo tão difícil de passar com qualidade para a tela, mas Rush é o perfeito exemplo de como deve ser feito. Baseando-se na rivalidade de dois grandes pilotos de Fórmula 1 na década de 70, este é um elogio ao movimento, à rivalidade e à emoção. É o melhor filme de desportos motorizados da década, isto escrito por alguém que nem lhes acha grande piada.
126º "Inception" (2010) - Christopher Nolan
Mais um filme de Nolan nesta tranche. Actualmente parece que ficou na moda maldizer Inception, mas lembram-se bem da originalidade da pica que sentiram ao vê-lo? Como é assinatura do realizador, o ritmo é imparável, a construção de tensão irrespirável e o efeito visual de entretenimento não preço. Todos têm o direito de gostar de cinema e Inception foi o filme que misturou suspense e intelecto como poucos fizeram.
125º "Moneyball" (2012) - Bennet Miller
Quem diria que era possível fazer um grande filme sobre baseball? Mais do que elogiar o desporto, Miller constrói os bastidores da indústria de forma aparentemente fria mas carregada de emoção. O baseball transforma-se em algo mais do que apenas um bater de bolas com um pau por grunhos americanos, com uma interpretação seguríssima de Brad Pitt e a primeira incursão de Jonah Hill fora da comédia.
124º "The Lighthouse" (2019) - Robert Eggers
Depois de realizar The Witch, Eggers vira-se para a solidão surrealista a preto e branco de Pattinson e Dafoe, sozinhos num calhau perdido no mar com o seu misterioso farol. Lembrando os velhos tempos do cinema mudo alemão e o surrealismo dos anos 70, os planos de rosto de Eggers, os monólogos lancinantes, a atmosfera desconcertante, The Lighthouse é uma belíssima experiência para apreciar no grande écrã. em 4:3.
123º "Don't Breathe" (2016) - Fede Alvarez
Mais um grande exemplo da originalidade que o cinema de terror desta década nos proporcionou, Don't Breathe é mais do que apenas a premissa de um grupo de jovens que decide assaltar a casa de um veterano de guerra invisual. O feitiço vira-se contra o feiticeiro neste thriller eficaz que deixará plateias a aplaudir de satisfação, como aconteceu na edição do Motelx por onde passou.
122º "How Do You Know" (2011) - James L. Brooks
É um dos filmes do mestre James L. Brooks (As Good as it Gets) que pior recepção teve e os motivos são, a nosso ver, misteriosos. Reese Witherspoon, Paul Rudd e Owen Wilson formam o triângulo amoroso desta inteligente comédia romântica que foge de moralismos fáceis e lições de vida, mas nos permite ver, de forma fantasiada, os dramas do amor e da família, para terminar numa fantástica cena aberta, em paragem de autocarro, de destino desconhecido. Nota ainda para aquela que foi, provavelmente, o último papel de Jack Nicholson no grande écrã.
121º Fish Tank (2010) - Andrea Arnold
Quando ainda estava a provar ao Mundo o grande actor que é, Fassbender participou neste filme independente de Andrea Arnold sobre uma jovem que começa a questionar a sua identidade quando a sua mãe solteira apresenta um novo namorado. Mais que um filme social realista sobre as classes mais desfavorecidas numa Grã Bretanha desigual, Arnold oferece um olhar voyeurista sobre a intimidade da sua jovem protagonista, com uma realização visceral e desconcertante.
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