Ao quinto dia da 12ª Edição do Motelx, sábado, vimos um dos melhores filmes presentes na programação: Piercing, de Nicolas Pesce, um fantástico thriller sexual esteticamente aprimorado. Veronica, mais recente filme do espanhol Paco Plaza (Rec) entregou uma das mais belas sessões de terror numa lotação esgotada com a presença do realizador e da actriz principal. Já Ghost Stories, um dos filmes mais antecipados do festival, protagonizado por Martin Freeman e Andy Nyman, foi uma tremenda desilusão.
Piercing: O primeiro filme de uma sessão dupla que começou muito atrasada, rondava a 1h da manhã, foi uma bela surpresa. Nicolas Pesce, realizador do desconcertante The Eyes of My Mother, protagonizado pela portuguesa Kika Magalhães, regressa ao cinema provocatório com este Piercing, inspirado no mesmo livro que inspirou o filme de culto Audition de Takashi Miike. Christopher Abbot contracena com Mia Wasikowska nas duas melhores interpretações desta edição do Motelx. Ele, um homem de família que planeia matar uma aleatória prostituta com um picador de gelo. Ela, uma prostituta que é menos inocente do que aparenta. Com uma química astuta, Abbot e Wasikowska complementam-se numa noite esteticamente delirante nas mãos de uma realização deliciosamente criativa de Pesce. Na verdade, o pequeno Mundo hermético de quarto de hotel de Piercing parece ter vida própria, englobando o espectador como voyeur da doentia fantasia do protagonista que recebe mais do que aquilo que planeava. Um design sonoro estimulante e uma banda sonora onírica e contemplativa, com um filtro de cores que não se rende ao facilitismo da corrente neo-noir recente, Pesce criou mais uma brilhante guloseima cinematográfica que apenas se fragiliza no seu argumento. Com efeito, conduzindo habilmente o espectador pela mente retorcida do duo de protagonistas, Pesce constrói um argumento labiríntico que aparenta não ter saída. Perante essa parede, Pesce decide terminar o filme ao invés de o elevar a um patamar ainda mais provocatório e criativo à semelhança do que Miike fez com Audition. Má decisão. Abbot e Wasikowska ainda tinham muito para dar e o espectador, o pretenso observador escondido na sala de cinema, estava interessado em ver.
Veronica: O realizador Paco Plaza e a actriz principal Sandra Escacena vieram ao Motelx para apresentar Veronica, um filme de terror sobrenatural confortável e tradicional, que apesar de não ter nada de novo a apresentar consegue subir alguns pontos graças a uma realização tecnicamente irrepreensível, uma interpretação cheia de personalidade de Sandra Escacena e 3 encantadoras interpretações infantis de duas meninas e um menino que interpretam os irmãos da protagonista, que os deve criar e proteger devido à sua mãe viúva trabalhar até tarde no seu bar/restaurante. Veronica oferece um entretenimento sólido e assustador para os fãs do género, evita os clichés e os jump scares, e preocupa-se mais em contar a história das suas personagens e em construir uma atmosfera de terror eficaz, embora conscientemente pouco credível. Para aquilo que pretende, Veronica cumpre com surpreendente eficácia todos os objectivos e afirma-se como uma das primeiras opções para quando alguém pede uma sugestão de "filme de terror giro para ver em casa".
Ghost Stories: Era um dos filmes mais aguardados desta edição do Motelx. Alguns apelidavam-no de melhor filme de terror britânico dos últimos anos, mas a verdade é que Ghost Stories é uma tremenda desilusão. A sua personagem principal, interpretada pelo próprio realizador Andy Nyman, dedica-se a desmistificar histórias sobrenaturais aparentemente inexplicáveis, apresentando ao espectador 3 episódios de terror, um após o outro, ao estilo antologia. Apesar da linha narrativa que vai ligando as 3 histórias, a "moral da história" aplicada ao protagonista do filme é tão desinteressante como desnecessária. Na verdade parece estar a mais, uma vez que qualquer um dos 3 mini episódios de horror é mais interessante que a história do protagonista os liga. Interessante será, no entanto, talvez um exagero, uma vez os pequenos contos expostos, quais curtas metragens juntas no mesmo título, não fogem ao básico dos clichés de género, apostando no jump scare como arma principal perante a incapacidade de em tão pouco tempo e perante tão pouco engenho construir personagens ou atmosferas credíveis. Ghost Stories é aquilo que se pode apelidar de salganhada ensossa que permitirá aos seus espectadores dar alguns (poucos) saltinhos na cadeira quando o volume fica mais alto, para logo a seguir soltar um inevitável riso. Uma enorme perda de tempo...
Sem comentários:
Enviar um comentário