Super Dark Times é um potencial filme de culto para um nicho
muito particular, o mesmo nicho que eleva Donnie Darko a esse estatuto, filme
ao qual tem sido directamente comparado e apontado como principal inspiração.
Observamos a forte relação de amizade entre dois adolescentes na casa dos 17
anos num bairro suburbano norte-americano no início dos anos 90, que
subitamente se vê afectada por uma tragédia que os dois amigos se vêm obrigados
a esconder, algo que os irá perseguir numa espiral emocional apresentada de
forma onírica e contemplativa até ao seu pouco robusto desfecho. Parece que a
principal intenção do realizador Kevin Phillips é realizar um filme belo, uma
reflexão realista mas negra sobre a raiva deste círculo de adolescentes que
funciona a título de exemplo para todos os outros, com referências nostálgicas
entre conversas e desafios que provavelmente todos tivemos a determinado
momento do crescimento. Todavia o grande desafio de Super Dark Times é
equilibrar-se de queixo elevado dentro do quadro imagético contemplativo que
ele próprio pinta, numa corda muito frágil que, partindo, tomba para o campo de
um pretensiosismo pesado injustificável pela sua substância argumentativa.
Simbolicamente (porque Super Dark Times pouco mais vai além de uma descrição
onírica de uma certa revolta juvenil) o filme faz tudo com peso e medida, com
elementos que caracterizam de forma realista as emoções, reacções e
consequências com que a geração representada (mais uma vez simbólica,
exemplificativa) se vê confrontada, o que é feito com a preciosa ajuda dos seus
dois bons actores principais. Na realidade não estamos a observar a história
concreta destas personagens, como o filme nos tenta inesperadamente impingir ao
filmar na sua cena final, e julgo que não se pode considerar um spoiler, o sol
a bater na cara de uma das personagens secundárias, caracterizando-a sem motivo
aparente, algo que nunca fez com reflexão com nenhum dos dois protagonistas, e
aí, apenas no final, Kevin Phillips sucumbe à tentação. A estética do filme,
aliada a uma banda sonora que lhe assenta que nem uma luva, será aprovada pelo
gosto pessoal do espectador, mas mesmo para os não apreciadores nunca se torna
incomodativa como o extremo do cinema de, por exemplo, Harmony Korine.
Arriscando muito, Super Dark Times corresponde bem, mas não tem a robustez de
substância necessária para glorificar o seu muito bom trabalho formal.
Porque é bom: Excelente tratamento estético; interpretação
eficaz e hiper-realista dos seus dois protagonistas; um retrato representativo
apurado de acção/reacção/consequência num circulo juvenil de classe média
suburbana
Porque é mau: Por vezes desequilibra-se sucumbindo a algum
pretensiosismo estético e argumentativo, de forma desnecessária; o terceiro
acto da trama é pouco robusto e soa a desenrascado; carece de um
desenvolvimento de personagem mais profundo, baseando-se demasiado na estética
para esse fim ao invés de em argumento
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