quarta-feira, 29 de março de 2017

Anthem of the Heart (2015)


Única longa metragem japonesa em competição no Monstra 2017, Anthem of the Heart é um agradável e inspirador filme sobre as inseguranças e traumas juvenis que, por vezes, sem que se repare, acabam por surgir no modelo familiar de classe média actual. Os efeitos do divórcio na criança, o sentimento de culpabilização que daí advém e o seu espelhar na vida escolar e social, aqui metaforicamente representados pela incapacidade de falar da personagem principal e a ansiedade que isso lhe provoca. Todo esse enquadramento está muito bem, mas quando se parte para o dia a dia escolar, os amores e desamores, as lideranças e as arrogâncias, Anthem of the Heart perde algum do seu encanto, ainda que seja sempre um filme sólido e equilibrado. É pena que não arrisque aprofundar mais a psicologia da sua personagem central, parecendo até sentir-se mais à vontade em desenvolver as suas três igualmente importantes personagens secundárias. Igualmente importantes porque, apesar de serem muito menos densas e originais em termos complexidade (os seus dilemas morais são os básicos que observamos na animação japonesa desde os anos 50/60), o filme acaba por lhes dar erradamente tanta relevância como dá à muito mais interessante menina que perdeu a habilidade de falar. Por vezes vai contra a corrente, é certo (o final é o oposto daquilo que se poderia considerar cliché, numa ou outra coisa), mas perante os portentos que a animação japonesa nos tem oferecido nos anos recentes com filmes como When Marnie Was There, Miss Hokusai ou o cinema de Makoto Shinkai (Your Name, Garden of Words) ou Isao Takahata (The Tale of Princess Kaguya), este Anthem of the Heart fica aquém das expectativas.

Porque é bom: Excelente qualidade de animação; o reflexo da ansiedade e insegurança dos pequenos grandes traumas da juventude e a sua representação metafórica no écrã; tem um enorme coração que vai reconfortar o espectador

Porque é mau: Perde-se no aprofundamento pouco interessante e original das suas personagens secundárias, prejudicando a muito mais interessante psicologia da personagem central tornando o filme insípido e pouco corajoso; a componente musical do filme por vezes parece deslocada

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