segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Hell or High Water (2016)



Apesar das poucas tentativas que de vez em quando vão surgindo na indústria (e por vezes aparecem filmes bem interessantes), o western é um género de cinema que pertence ao passado. Pelo menos na sua vertente de índios e cowboys, a lenda do Oeste selvagem de meados do século XIX que se tornou objecto de aventura e fascínio, com determinada inocência está claro, pois a realidade era bem diferente daquela presente nos westerns clássicos. O que aconteceu ao velho oeste? Que é feito dele, agora, em 2016? Hell or High Water traz esse retrato, de um Texas deserto, despovoado, desolado e esquecido nos tempos que correm, do fastio daqueles que lá habitam, do seu conformismo perante uma vida de poucas oportunidades, de um estilo de vida que se perdeu mas que erigiu um país e de que os Estados Unidos dos media massificados pelos grandes centros urbanos aparentemente deixaram de se importar. Irónico o momento político norte-americano em que estreia este Hell or High Water, com a eleição de Trump como o mais recente presidente dos Estados Unidos. Os tais americanos sem voz serão estes, os ditos campónios menosprezados, os dois irmãos habilmente interpretados por Chris Pine e Ben Foster lixados pela vida que se vêm obrigados a assaltar bancos por um motivo maior. Do outro lado está um eminente Jeff Bridges, um ranger texano de gema, que os persegue enquanto propõe as suas próprias reflexões sobre o estado a que aquela região chegou. Antes de ser thriller dramático, Hell or High Water é o retrato social acima descrito, e um belo banho de humildade para a arrogância empresarial que trata estas espaçadas populações com desdém. É o que Jeff Bridges refere a determinado momento do filme, em diálogo com o seu parceiro nativo americano: os bancos levaram tudo e qualquer dia nem as suas vacas os vaqueiros terão. Antes vale deixar um incêndio consumir a pradaria que gastar dinheiro em recursos para o apagar. De ritmo lento e contemplativo, o filme constrói-se com as suas admiráveis e desoladas paisagens, bem como com as suas igualmente adjectiváveis personagens, das mais complexas na sua simplicidade que vimos este ano. David McKenzie tem um trabalho de realização de um equilíbrio e sensibilidade notáveis. Hell or High Water é um dos melhores filmes de 2016 que infelizmente talvez poucos verão.

Porque é bom: O retrato de um Texas rural abandonado e esquecido; personagens solidamente construídas e com interpretações acima da média de Chris Pine, Jeff Bridges e Ben Foster; a sensibilidade da realização, espaçada e contemplativa; as paisagens do novo velho Oeste; apesar do seu contexto, a tensão da trama é constante.

Porque é mau: O argumento e ideias apresentadas podem ser demasiado vagos para o espectador que prefira temáticas mais concretas.

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