Paul Verhoeven, o homem por detrás de clássicos musculados como Robocop, Total Recall, Basic Instinct ou Starship Troopers e que andava há uns bons anos alheado das andanças do cinema regressa agora em 2016 com um filme de linguagem de autor europeia, produzido em França, partilhando-o com Isabelle Huppert, dona e senhora do filme. A interpretação de Huppert é de facto magistral, mas atribuir-lhe só a ela os louros deste socialmente doentio Elle é injusto. O argumento é algo de bestial na sua estranheza, uma empresária bem sucedida, divorciada, cínica, que não se deixa afectar ou surpreender por nada, e antes joga tudo a seu favor. A sua personagem principal é o veículo que transporta o espectador para uma espécie de sátira a uma certa burguesia europeia divorciada, a geração de cinquentões com poder, e no caso, dessa condição no sexo feminino. Não há que o rotular é certo, porque este Elle além de sátira a esse estereótipo que nós europeus observamos mas que raramente vemos em cinema é também thriller negro (negríssimo) contemplativo, que põe a nú e sem pudores os receios/desejos perversos da personagem de Huppert. Elle acaba por ser um desafio para quem o vê, uma realidade (ou não) desconhecida para a maioria do público que entra no quebra cabeças da sua musa ao longo de pouco mais de duas horas de filme desconfortável, quase voyeur, em busca de um momento mais aconchegante, a vingança que se espera desde a cena inicial do filme. Mas Elle não está cá para recompensar ninguém. É cinema audaz, sem piedade, que quase transforma a humanidade das suas personagens em algo de maquinal, premeditado, frio, cínico, pois é assim mesmo que elas são. É esta a Elle de Isabelle Huppert e Paul Verhoeven, um filme sobre adultos para adultos.
Porque é mau: Pode ser desconfortável, com temáticas subversivas e cínicas.
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