sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Especial Motelx 2016 - Dia #6: Personal Shopper (2016), Scream Week (2016), The Devil's Candy (2015)

Muitos filmes depois, chegou o último dia do Motelx 2016. Foram 6 grandes dias de entretenimento cinematográfico, e não só, que chegam ao fim com uma franca sensação de esgotamento que justifica também o facto desta última fornada de críticas ser apenas publicada 5 dias depois do fim do festival. Vimos no total 18 filmes, mas não nos arrependemos. O último dia foi também interessante e teve como prato mais requintado Personal Shopper, o novo filme de Olivier Assayas, com Kristen Stewart. Vimos também o teen-slasher holandês Scream Week e a sessão de encerramento que apresentou o original The Devil's Candy. Foi isto que achámos:


Personal Shopper: Aparentemente o bem sucedido anterior filme de Olivier Assayas, Clouds of Sils Maria, igualmente protagonizado por Kristen Stewart (num papel que até é bastante semelhante ao aqui presente), criou uma ligação entre realizador e actriz que se transportou, e muito bem, para Personal Shopper. Kristen Stewart é a assistente de uma socialite de Paris, responsável por comprar a sua roupa e acessórios, para que nada lhe falte. Este é o "cenário" da trama, que serve apenas de veículo uma vez que o âmago do filme nada terá que ver com isso. A sua personagem está a tentar contactar o irmão, falecido há muito pouco tempo, numa espécie de demanda surreal em busca de uma paz interior que poderá não existir. Assayas é hábil no desenvolvimento da sua personagem principal, num filme tecnicamente evoluído que claramente se distância do registo mais descomprometido que normalmente associamos ao Motelx. O realizador convida o espectador a exercer um certo voyeurismo sobre a trama, invadindo a privacidade da personagem que, de forma crédula, se entrega a qualquer manifestação que tenha dificuldade em justificar. E isso é, além de original e interessantíssimo, é executado na perfeição, com a introdução de elementos de horror criativos e misteriosos. É difícil dizer que Personal Shopper é um grande filme. Afinal de contas não passa de uma pequena reflexão, ao de leve, sobre a dor de perder alguém que se ama, mas guarda sem dúvida um belo espaço na retina de quem o vê. Foi um dos melhores filmes a passar nesta edição do Motelx.



Scream Week: Sala inesperadamente vazia no Motelx para ver este teen slasher holandês, que podia não o ser, já que segue copy paste as regras ditadas por Wes Craven e amigos para este género de terror, com todos os lugares comuns expectáveis, onde um assassino com máscara aterroriza um grupo de jovens na sua semana de férias e festa. Ser holândes é apenas um detalhe. Não há nada de errado em Scream Week ser um teen slasher e usar os lugares comuns do género. O problema vem das gorduras, dos excessos que estão a mais no filme, e que ainda por cima se repetem ciclicamente. Falo nos sucessivos cortes no andamento thrillesco do filme, sempre que existe uma pequena pausa na trama, com sequências montagem de festa e bebida dos jovens que estão naquele local para as suas férias, com música ensurdecedora que mais parece ilustrar um bando de gorilas a descer uma montanha aos trambolhões, como se o espectador, burrinho como os protagonistas, precisasse de estar constantemente a ser recordado do cenário onde se insere o filme. Essa presença nefasta é tanta que por vezes parece que estamos a ver dois filmes em paralelo, o que retira toda o prazer que se possa extrair deste Scream Week.



The Devil's Candy: Foi o filme escolhido para o encerramento do Motelx 2016, escolha que deixou algo a desejar face ao que já se viu no encerramento em anos anteriores. Devil's Candy pega na premissa batida de colocar uma família (pai, mãe e filha) numa nova casa, casa essa, claro está, que esconde alguns segredos que irão atormentar os protagonistas. Felizmente, The Devil's Candy não é só isso, e é inteligente o suficiente para introduzir variados ingredientes que são frescos para o género, mas que podem alienar um determinado tipo de espectadores. Isto porque esta é uma família pouco convencional, que ouve heavy metal, género que pauta toda a banda sonora do filme, e em que o pai (o sujeito tatuado e barbudo na imagem) é um pintor de grande habilidade. Curiosamente, acaba por ser por aqui que o filme se torna mais forte, com personagens bem desenvolvidas e interpretadas e cujo destino é realmente algo de importante para o espectador. E isso, além de ser espantoso por ser alcançado num filme de apenas 79 minutos, é bem raro no cinema de terror contemporâneo. Tudo isso, aliado a uma sequência final muito bem executada onde o realizador Sean Byrne demonstra bem a sua capacidade de filmar bom cinema, são argumentos bem fortes para que The Devil's Candy se venha a tornar no futuro um filme de culto para um determinado nicho.



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