Yorgos Lanthimos não é realizador
cujo estilo se perca na imensidão de realizadores anónimos que se massificam pautando-se
por determinadas regras de cinema que parecem as correctas ou adequadas, para o
bem e para o mal, de forma a conseguirem fazer cinema “normal”. Não. Lanthimos
tem cunho próprio, aquilo que actualmente algumas correntes chamam de art-house, vulgo cinema de autor,
voltando a apresentar neste Lobster um produto estranho – como oposto a normal –
acerca de uma sociedade distópica onde os solteiros são enviados para um hotel
para em 45 dias se apaixonarem sob pena de serem transformados num animal à sua
escolha. Parece evidente que o realizador grego procura perseguir um
determinado moralismo social acerca da pressão exercida hoje em dia perante os
solteiros para que deixem de o ser. Até aqui tudo bem na teoria, é uma temática
actual, aliada a uma realização brilhante com composições estéticas belas e
criativas, apresentadas com uma banda sonora clássica escolhida a dedo. Mas se esse
foco de crítica social em forma de alegoria é mais que actual (na verdade,
alguma vez não o foi?) não deveria o espectador sentir-se afectado por ela? É
caso para dizer “E se fosse consigo?”. A verdade é que essa questão não se
coloca, porque nunca poderia ser connosco. Neste pequeno mundo de laboratório
criado por Lanthimos, as personagens são movidas pelo aberracionismo dos seus
comportamentos, quais autómatos desprovidos de alma, ou pelo menos alma suficiente
que de facto os faça merecer algo mais do que se transformarem num animal, e no
caso do protagonista Colin Farrell, numa lagosta. Pobres actores, cuja interpretação está de tal forma manietada por esse aberracionismo que parece que a criatividade da sua profissão está totalmente esgotada pela realização. Contas feitas, The Lobster é
uma demonstração cínica de bom gosto estético, visual e auditivo, com
interpretações limitadas pela propositada estranheza da distopia onde vivem, cuja
preocupação social vai sem quaisquer complexos pouco além da premissa que podemos
ler na sua sinopse, tornando-a totalmente ineficaz. Se era esta ou não a
intenção, não sabemos, mas Lanthimos não tem vergonha absolutamente nenhuma de
seguir este caminho. O tal cinema de autor tem destas coisas, a sua
autenticidade puxará sempre pela opinião mais pessoal de quem o vê.
Porque é bom: Soberba realização e estética; banda sonora clássica; boa premissa.
Porque é mau: Interpretações limitadíssimas pela estética do filme; a crítica social é cinicamente posta de lado em detrimento do efeito visual.
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