Há formas e formas de fazer thriller
de entretenimento, mas a eficácia com que se consegue transmitir ao espectador a
sensação de suspense e mistério, criando um imaginário, é provavelmente a mais
satisfatória. 10 Cloverfield Lane é genuíno produto dessa linha. O filme aparentemente
coexiste no universo de Cloverfield de 2008, mas ir além disso seria estragar o que o marketing de 10 Cloverfield Lane tanto se esforçou para esconder,
incluindo a sua própria produção que só foi revelada há uns poucos meses.
Depois de perder os sentidos num acidente de automóvel, Mary Elizabeth Winstead
acorda num bunker. Aparentemente existiu um ataque químico acima do solo e esse
bunker é o único lugar seguro. Temos três personagens, interpretadas por 3
grandes actores. Winstead carrega o filme com realismo e astúcia, qual Ripley de Alien, John Goodman
é o misterioso e assustador homem que parece ter previsto o apocalipse e John
Gallagher Jr. é o jovem vizinho afável que procurou refúgio no bunker de Goodman. Não se pode
dizer que algum deles tenha uma interpretação soberba, mas todos são
carismáticos o suficiente para facilitar a eficácia com que o realizador Dan
Trachtenberg dirige o mistério. John Goodman já tem créditos mais do que
garantidos, tudo o que faz é enorme, mas Winstead e Gallagher têm também um bom futuro pela frente (este último já deu provas suficientes com Short Term 12). 10
Cloverfield Lane prima pela originalidade, deixando-se apaixonar pela
simplicidade low budget série B de um certo cinema dos anos 80/90 que poucos têm a audácia de
recordar. A sugestão, mistério e tensão, tão minimalista, terrena e palpável para uma ideia que aparenta ser tão grandiosa,
transportam todo o filme, deixando respostas e esclarecimentos para segundo
plano, ou não fosse JJ Abrams o produtor da película. E no mesmo sentido, para
quem se quiser deixar levar pela excitação que o mistério do filme transmite,
não se livrará de ficar surpreendido com o desenlace. Sabe bem ver 10
Cloverfield Lane, um thriller reconfortante, genuíno, pouco tímido, mas nunca
espalhafatoso, seguro de si, por vezes a piscar o olho ao macabro, mas sempre de mão dada com o espectador. Está ali, em ponto de rebuçado, para quem o quiser receber de
braços abertos, correndo o risco de se tornar filme de culto num determinado nicho.
Porque é bom: A eficácia do suspense e mistério que o desconhecido pode gerar; 3 actores carismáticos a transportar o filme; familiar sentido low-budget/série B que não se inibe de surpreender o espectador; genuíno, original e equilibrado; o desenlace é altamente satisfatório para quem o quiser abraçar.
Porque é mau: O desenlace não agradará a todos; é original e equilibrado, mas não atinge patamares de obra-prima.
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