O Fading Cam nunca fez nenhum artigo além da crítica, mas
chegada a noite dos Óscares decidimos também fazer um artigo especial para
celebrar a altura do ano em que mais se fala de cinema. Não o fazer ficaria
mal, já que este ano há mesmo muita coisa para dizer. É um ano forte, com
candidatos de vários tipos nas várias categorias, filmes esquecidos e pressões
externas para o bem e para o mal. Vamos falar de algumas coisas engraçadas,
além das simples previsões dos vencedores. Esperemos que gostem e isto dê alguma alegria para o
acompanhar da grande noite que se aproxima:
As notas do The Fading Cam aos nomeados
para melhor filme*
Bridge of Spies
The Big
Short
The Martian
Mad Max:
Fury Road
Spotlight
The
Revenant
Room
* Consultem
na barra lateral as críticas aos nomeados, onde podem ver rapidamente o melhor
e o pior de cada um deles.
As previsões habituais
Óscar de melhor filme do ano
Quem vai ganhar - The Revenant
Quem devia ganhar - Room
Quem pode fazer uma surpresa – The Big Short ou Spotlight
Óscar de melhor actriz
Quem vai ganhar – Brie Larson (Room)
Quem devia ganhar – Brie Larson (Room)
Quem pode fazer uma surpresa – Cate Blanchett (Carol)
Quem vai ganhar – Leonardo DiCaprio (The Revenant)
Quem devia ganhar – Michael Fassbender (Steve Jobs)
Quem pode fazer uma surpresa – Eddie Redmayne (The Danish
Girl)
Quem vai ganhar – Kate Winslet (Steve Jobs)
Quem devia ganhar – Jennifer Jason Leigh (The Hateful Eight)
Quem pode fazer uma surpresa – Rooney Mara (Carol)
Quem vai ganhar – Sylvester Stallone (Creed)
Quem devia ganhar – Sylvester Stallone (Creed)
Quem pode fazer uma surpresa – Mark Rylance (Bridge of
Spies)
Quem vai ganhar – Alejandro González Iñarritu (The Revenant)
Quem devia ganhar – George Miller (Mad Max: Fury Road)
Quem pode fazer uma surpresa – Tom McCarthy (Spotlight)
As duas masterpieces que a Academia se esqueceu de nomear para melhor filme
The Hateful Eight
É mais parado e foge ao que Tarantino habituou os
espectadores, mas este épico de 3 horas assente no diálogo tem muito mais
profundidade que qualquer um dos seus filmes anteriores. Sendo esta uma
cerimónia que premeia o melhor que se fez no cinema americano, The Hateful
Eight teria que estar nomeado porque... é do melhor que o cinema americano já
fez sobre si próprio. Uma verdadeira lição histórica dos Estados Unidos que se
funde com a história da sétima arte americana. Não tem sido muito amado por
grande parte do público. Terá sido por isso que a Academia não o incluiu nos
nomeados para melhor filme?
Carol
Um filme que além de duas das melhores interpretações do ano
oferece uma sensibilidade quase onírica, aliando imagem a amor, a tacto,
respiração e olhar. Carol lembra algum do melhor cinema europeu e se está
nomeado para melhor argumento, melhor actriz e melhor actriz secundária não se
entende como não está nomeado para melhor filme. Haverá aqui algum preconceito por parte da Academia?
O filme que a Academia sobrevalorizou
Claro que Bridge of Spies é um bom filme. É mais que competente
a todos os níveis, desde as interpretações à cinematografia, mas considerá-lo
um dos oito melhores filmes do ano, quando Hateful Eight e Carol não fazem
parte dessa lista, não pode ser justo. Está na realidade alguns furos abaixo
dos restantes nomeados. A presença de Tom Hanks é provavelmente o melhor do
filme e o actor não está sequer nomeado. Quem curiosamente está é Mark Rylance,
que de entre os 5 nomeados a melhor actor secundário (provavelmente a nomeação
mais bem apetrechada) é aquele que oferece uma interpretação bastante abaixo da
dos restantes. Ironicamente, parece que é ele quem pode fazer uma surpresa
nessa categoria, tendo ganho o BAFTA correspondente.
Parece que este ano dará finalmente o Óscar a DiCaprio. Ele
é um dos melhores actores da sua geração, mas será justo vencer o Óscar de
melhor actor pelo seu papel de Hugh Glass em The Revenant? Achamos que não e
damos 5 razões.
Razão #1 – A pressão mediática
Os media, a internet e o público em geral têm criado uma
enorme pressão para que DiCaprio ganhe o Óscar, criando uma ilusão de
obrigatoriedade e escândalo se assim não o for. Isto parte do facto de ser
piada recorrente a injustiça que é o actor nunca o ter ganho tendo em conta a
sua carreira, mas vencer só por ser quem é não pode justificar a vitória. Até
se fez um videojogo para ajudar DiCaprio a ganhar o Óscar.
Razão #2 – O papel de Hugh Glass é fraco
Com tantos soberbos papéis que DiCaprio interpretou vai
ganhar com este Hugh Glass? O desenvolvimento e background da sua personagem é
perto do nulo e a sua qualidade interpretativa vai pouco mais além do que
gemidos, grunhidos, quedas e rastejos. DiCaprio dá o seu máximo, mas não se
consegue fazer um bom papel só por se ter em mãos um bom actor. É preciso que o
argumento acompanhe e em Revenant isso não acontece.
Razão #3 – A ironia
É isso. A ironia, e será uma ironia que, depois da excitação
passar, ficará para a história dos Óscares. DiCaprio nunca ganhou até hoje, por
uma razão ou outra, mas vir finalmente a ganhar por um dos seus piores papéis é
trágico. Basta relembrar What's
Eating Gilpert Grape, The Basketball Diaries, Catch Me If You Can, The Aviator, The Departed, Blood
Diamond, Revolutionary Road, Shutter Island, J. Edgar, Django Unchained, Great
Gatsby, The Wolf Of Wall Street… Até Titanic. Tudo foi superior ao que
temos agora em mãos.
Razão #4 – A interpretação de
Fassbender é melhor
DiCaprio não devia ganhar pura e
simplesmente porque a interpretação de Fassbender como Steve Jobs este ano é melhor que
a sua. Com um diálogo soberbamente escrito e a excelente companhia de Kate
Winslet, Fassbender destaca-se. Mais uma vez agarra-nos à cadeira e à sua
personagem e deixa-nos de queixo caído com a sua qualidade interpretativa que
parece não ter limites quando aparentemente já os atingiu em Hunger, Shame,
Twelve Years a Slave. Só está fora da corrida porque o filme, infelizmente, foi
mal comercializado e passou ao lado de muito boa gente.
Razão #5 – O aproveitamento mediático de Iñarritu
Já deixámos bem claro o que pensamos do realizador de
Revenant na crítica que fizemos ao filme. A escolha de DiCaprio para o papel
principal não é inocente. Levado pelo embalo de prémios que recebeu com
Birdman, Iñarritu tomou-lhe o gosto e quis fazer tudo ao mesmo tempo em todas
as áreas. Para a interpretação chamou o mais mediático e injustiçado dos
actores no que toca a prémios. DiCaprio, pois claro. Quem beneficia da quase
obrigatoriedade de dar um Óscar ao actor? Iñarritu, pois claro.
Outras nomeações (ou falta delas) difíceis de entender
A interpretação do Major Marquis Warren é uma das melhores,
senão a melhor do ano. Não está sequer nomeado, e estando seria um justíssimo
vencedor. Além disso há a questão racial. A Academia tinha por onde escolher.
Preferiu não o fazer.
A não nomeação de The Hateful Eight como melhor argumento:
Como não nomear um dos melhores argumentos do ano? 3 horas de
intenso e rico diálogo, com profundidade histórica, simbolismo, mistério e
suspense que ficaram de fora.
A ausência de Peanuts como melhor filme de animação:
A sua tradicional animação inteligentemente modernizada pelo computador (que quase nem se nota, tão perfeita é a caracterização perante os quadradinhos originais), fazem com que este seja um pequeno filme de animação em dimensão, mas verdadeiramente enorme em qualidade e significado, e isso é uma chapada de luva branca à deturpação que o cinema de animação tem vindo a sofrer nos últimos anos. Não o nomear é por demais injusto.
A nomeação de Cinderella para melhor guarda roupa:
Ficam de fora Brooklyn, Hateful Eight, Star Wars, The Martian
para nomear... Cinderella?
Apenas 3 nomeados para maquilhagem:
Não percebemos muito do tema mas à primeira vista este parece
ser um ano muito mais rico nesta área. Porquê só nomear Revenant, Mad Max e The
100 Year Old Man?
A nomeação do pior filme do ano para melhor
canção original:
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