Apesar de sempre activo na realização, se não olharmos para o pequeno papel em Trouble With the Curve, Clint Eastwood já não interpretava há uma década, desde Gran Torino. Este inesperado regresso de quem supostamente não iria regressar à tela é uma belíssima meditação sobre o fim da vida Eastwoodiana, um rijo, com histórias para contar e erros para apagar. O drama partilha piso com o thriller e joga com os chavões do cinema americano musculado dos últimos 30 anos, ao deliberadamente juntar todo o lastro do veterano actor, de mães enrugadas e veias salientes, com o mundo do tráfico de droga, da perseguição, da emboscada. The Mule tem uma viscosidade fora do normal, num mundo sujo onde um nonagenário de voz enrouquecida procura algo de melhor, como que à deriva, até finalmente chegar a bom porto e definir as prioridades que tinha adormecidas há décadas. The Mule é um exercício repleto de camadas bem mais densas do que à primeira vista aparentam, e que mais uma vez demonstra que, apesar de lá estar, Eastwood se está nas tintas para o politicamente correcto. Em cinema, em 2019, só uma lenda perto dos 90 anos poderia fazer tal coisa.
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