É inegável que Sean Baker consegue imprimir nos seus filmes um forte cunho criativo, com uma realização bem distintiva por si assinada. O seu interesse pela observação hiper realista das classes mais desfavorecidas tem mérito e é corajoso. The Florida Project, projecto inacabado atento às desigualdades sociais que subsistem naquele Estado, casa da Disney World e outros cenários de sonho, retrata essas pessoas que lutam no dia a dia para sustentar a sua família, as mães solteiras, e as crianças, particularmente as crianças, com lupa focada num motel barato nas traseiras do imponente parque temático num Verão onde abunda o tempo livre. Brooklynn Prince, menina de 6 anos, encabeça o grupo de crianças rebeldes e (muito) mal comportadas que servem de olhar observador para as complexidades e problemáticas da vida adulta, pintadas em jeito de cenário, onde a simplicidade de brincar e fazer disparates, alguns com consequências graves, reina, fruto da negligência parental de que são objecto. Quem procura fazer o balanço moral é Willem Dafoe, o gerente e responsável do motel que, apesar do carinho que nutre pelas crianças (afinal de contas são apenas crianças), não está disponível para tolerar de ânimo leve a irresponsabilidade da mãe solteira e rebelde, protagonizada por Bria Vinaite na sua estreia na interpretação. Enquanto a camera de Sean Baker se fixa à altura dos seus muito jovens protagonistas, observando o seu dia a dia, (Brooklynn Prince tem uma das mais impressionantes interpretações infantis de todos os tempos), o que ocorre durante a primeira metade do filme, The Florida Project é uma original poesia visual ocupada pela beleza das pequenas coisas e de uma inocência raramente filmada com tanta destreza, objectividade e realismo. A partir de determinado momento Sean Baker parece desinteressar-se desta realidade mais inocente e foca a sua lente na mãe, negligente, censurável, pretensiosamente irritante, numa catadupa episódica de momentos do dia a dia, com a filha como "parceira de crime", arrastada, desinspirada, desinteressante, dir-se-ia mesmo repugnante, que não deixa o espectador indiferente, para o melhor e para o pior. Resta o conforto lógico, moral e protector de Willem Dafoe, o único "actor feito" no elenco, que parece que nos salva das garras da autodestruição observada em écrã, com uma das melhores interpretações da sua carreira. O espectador é Dafoe na sua ânsia intervencionista, na sua imposição lógica, e isso acaba por ser, a par da humildade da sua primeira hora, a única coisa boa a extrair de The Florida Project.
Porque é bom: Brooklynn Prince, de 6 anos, tem uma das melhores interpretações infantis da memória recente; Willem Dafoe é brilhante no papel de ânsia intervencionista do espectador, funcionando como bússola orientadora; o realismo com que são capturados os dias desocupados de Verão das crianças da comunidade; um olhar corajoso e objectivo sobre a negligência parental; o final
Porque é mau: Ao afastar o seu foco das crianças e a colocá-lo na mãe da protagonista infantil o filme perde a sua poesia argumentativa e visual, tornando-se um enfado episódico arrastado de censurabilidade e desinteresse do qual apenas o carácter da personagem de Willem Dafoe (o espectador dentro do filme) nos pode salvar
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