domingo, 7 de janeiro de 2018

It Comes At Night (2017)


O cinema de terror, enquanto género maior que se divide numa teia de subgéneros formulaicos, pareceria em 2017 algo de já esgotado, com uma fórmula repetida exaustivamente, levando os mais cépticos a pensar que dificilmente algo mais poderá ser feito dentro das suas várias variantes. A verdade é que o cinema de terror, enquanto género de características únicas (herméticas, que raramente cruzam os outros salvo, com alguma regularidade, a comédia), terá sempre o seu espaço no coração dos seus fãs. O que fará a diferença é a interpretação dessas regras fílmicas, a sua transposição para o écrã e, derradeiramente, a sua transposição para o espírito do espectador. It Comes At Night domina de forma perfeita os corolários do género, e é jogando com eles e interpretando-os de forma minimalista que consegue entregar um filme de mistério/terror brilhante em fórmula, saboroso em conteúdo, mas limitado pela orgulhosa diferença que pauta as suas próprias regras. Trey Edward Shults, o realizador e argumentista de 29 anos, constrói um fechado ponto de observação inserido num mundo pós-apocalíptico, onde aparentemente um vírus dizimou a população. Joel Edgerton interpreta o patriarca de um pequeno seio familiar, composto pela sua esposa e filho, que logrou viver de forma sustentável num meio rural isolado. A trama é posta em movimento com o aparecimento de um estranho na sua casa. It Comes At Night escolhe conscientemente a via minimalista do horror slow burn, com a objectividade e contenção moral de Edgerton a nortear a posição racional no argumento, eliminando aquilo que normalmente se associa às más decisões das personagens do género, atribuindo-lhe um inegável realismo. Por outro lado, mãe e filho personificam a compaixão, especificando este último a curiosidade característica da adolescência, exponenciada por uma vida de regras e isolamento. Todas as peças do puzzle argumentativo, ao qual outras se virão a juntar, estão montadas de forma imaculada, conseguindo de forma sublime manter a intriga e o mistério perante a falta de informação e impotência que pauta todo o filme. O melhor terror é provavelmente aquele que fica por revelar, uma vez que a atmosfera de mistério e horror esvazia-se ao materializar a confrontação. O filme de Shults consegue até ao último momento segurar esta atmosfera. No entanto, quando parece que talvez seja o momento certo para revelar a "caixa de pandora", It Comes At Night decide prolongar o seu minimalismo, a sua escuridão argumentativa, deixando ao espectador pouco mais além de um drama familiar aí inserido. A originalidade da fórmula é meritória, mas Shults, ao conscientemente deixar algo por fazer, privou o espectador da sua habitual recompensa, deixando um sentimento de vazio. It Comes At Night é como observar uma fórmula matemática reduzida e aperfeiçoada cujas incógnitas cabe ao espectador preencher. A diversão disso será sempre subjectiva.

Porque é bom: Brilhante realização de Trey Edward Shults e interpretação de Joel Edgerton; atmosfera tensa e misteriosa executada de forma quase perfeita; minimalismo saboroso de observar, que prima pela originalidade.

Porque é mau: As regras minimalistas conscientemente impostas no filme acabam por ser ao mesmo tempo a sua maior virtude e a sua maior fraqueza, com um sentimento de vazio e incompletude a pairar a partir do momento em que os créditos se desenrolam.

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