quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Deepwater Horizon (2016)


Parece que o realizador Peter Berg, que já havia realizado o bom thriller de guerra Lone Survivor (tecnicamente louvável), tomou o gosto pela adaptação cinematográfica de histórias reais, alinhando-se na mais recente moda da transposição da tragédia de herói da vida real para o grande écrã, como se de repente o filme-catástrofe já fosse algo de legítimo caso expusesse uma história real, recente e palpável. No entanto, neste Deepwater Horizon, que retrata o maior derrame de petróleo da história dos Estados Unidos e que aconteceu há apenas meia dúzia de anos, os fins não justificam os meios. Temos um Mark Wahlberg a liderar um elenco de excelentes (Kurt Russel, Malkovich) e bons actores que se atropelam no protagonismo (qual deles será mais "herói"?) numa pequena história quase em tempo real engordada com detalhes que infelizmente são a caracterização daquilo que normalmente chamamos de clichés hollywoodescos, da namorada que fica em casa preocupada a acompanhar tudo pela televisão ao discurso final inspirador. Não haveria qualquer problema se o filme cumprisse com aquilo a que se propõe, mas Deepwater Horizon parece algo indeciso quanto ao seu próprio rumo. Parece querer ser incisivo na acção, mas insiste em desenvolver as suas personagens com uma carga dramática despropositada, com backstories irrelevantes para o espectador que no final sente o peso de ter que ser educado perante a homenagem aos falecidos (história real) que afinal de contas o filme acaba por ser. Chamar-lhe hipócrita é talvez exagerado, mas a verdade é que com tanta indecisão a verdadeira estrela deste Horizonte Profundo acaba por ser a sua grande explosão, o seu big bang filmado em vários ângulos que antecipamos ao longo da primeira hora de desenvolvimento de personagens. Não será estranho compará-lo a Titanic, pois em determinados momentos thrillescos os corredores tremeluzentes da plataforma petrolífera são cópia directa dos do navio, sem falar de outras sequências. Bem espremido, Deepwater Horizon é um vazio de ideias insufladas pelos seus protagonistas e cinematograficamente não é mais que razoável. Uma pena tendo em conta que Lone Survivor é um dos filmes de acção mais interessantes dos últimos anos. Deepwater Horizon não é mau, mas é sem dúvida irrelevante.

Porque é bom: Boas interpretações, em particular a de Kurt Russel e a de John Malkovich; a fotografia e o clímax.

Porque é mau: Sobrecarga dramática no desenvolvimento das personagens; a falta de conteúdo leva ao arrastar da narrativa, engordada por detalhes pretensamente "humanos" desnecessários; indeciso quanto ao seu rumo, entre o drama sentimentalista, a explosão do filme catástrofe, a acção incisiva e homenagem que acaba por ser, não o sendo.

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