quarta-feira, 31 de agosto de 2016

The Shallows (2016)


Os thrillers e filmes de terror que usam como principal "vilão" tubarões são tantos que talvez já se possa falar num subgénero cinematográfico. The Shallows não quer fazer parte disso. Não quer ser filme série B de sarjeta nem a repetição cansada que tantos thrillers cópia de Jaws acabaram por se tornar. E na verdade até é bem sucedido, ainda que vá buscar influências a outro lado. Shallows é sobretudo original na forma como se apresenta, bem realizado, com cores e imagens fortes, aliando-se a uma boa interpretação de Blake Lively no papel da heroína surfista que se vê atacada por um tubarão numa praia deserta e desconhecida, vendo-se forçada a ficar em cima de uma rocha sem possibilidade de regressar à margem. A ideia é no mínimo entusiasmante, e executada de forma realista e minimalista, transmitindo o sentimento de impotência e solidão da personagem para o espectador. Mas claro que nem tudo são rosas, porque um estúdio de Hollywood não vai gastar 17 milhões de euros num filme tão minimalista sem garantias de retorno. É aí que entra em acção 127 Horas, de Danny Boyle, provavelmente a principal influência de The Shallows. Na verdade, de um filme para o outro, apenas mudam as circunstâncias. A background story da personagem principal, lamechas e dramática quanto baste, também salta de um filme para o outro, assim como alguns truques de aceleração e preenchimento de écrã que as novas tecnologias permitem e que dão golfadas de ar ao espectador mais impaciente, inserindo no filme conteúdo desnecessário e inconsequente. Estão aqui os pop-ups de mensagem de telemóvel na tela que já são lugar comum em algum cinema mais moderno, uma camera go-pro, bem como as formas criativas de criar diálogo num filme que em nada o pedia como introduzindo uma gaivota que serve tanto de interlocutora aos pensamentos em voz alta da protagonista, como de elemento cómico e ainda pseudo-simbólico, e é isso que mancha e impede Shallows de ser mais do que apenas um thriller original, bem executado e realista. Seria tão bom que tivesse mais coragem e seguisse as pisadas de, já que estamos no mar, All Is Lost, onde Robert Redford se via sozinho à deriva no meio do oceano, sem histórias de passado lamechas, diálogos ou quaisquer outros facilitismos. São esses facilitismos que acobardam The Shallows e o impedem de ser algo mais. Ainda assim, thrillers com este grau de originalidade são poucos, porque apesar da temática tubarão ser recorrente provavelmente nunca vimos um tão realista, intenso, minimalista e, assim, original. Essa originalidade, aliada a uma realização criativa, vistosa e muito eficaz, fazem deste um dos thrillers mais interessantes dos últimos anos.

Porque é bom: Originalidade; realização criativa e vistosa; é um novo olhar sobre o subgénero de thriller com tubarão; intenso e minimalista, ainda que não o seja em apresentação

Porque é mau: Não consegue fugir à exploração lamechas do passado da personagem nem a alguns facilitismos que enchem o écrã e dão lufadas de ar ao espectador mais facilmente aborrecível.

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